setembro 25, 2006

Telefilme de Luxo

No nosso país, actualmente, encontramos filmes interessantes em cartaz, desde comédias inteligentes aos dramas mais recentes e, por curiosidade e pelo cast, pensei que seria um divertimento interessante assistir ao filme "O Sentinela" (não pensem que apenas vejo filmes de culto...).
Lamento dizer que, em minha opinião, apesar de ter como actores Michael Douglas (também produtor), Kiefer Sutherland (muito melhor como Jack Bauer em "24"), Eva Longoria (num papel de "bibelot") e Kim Basinger, tudo se reduz a um filme muito simples e sem força, que só não é série B porque tem todas estas estrelas.
A história passa-se no interior da Casa Branca através da descoberta de um traidor nos Serviços Secretos que planeia, juntamente com terroristas, assassinar o presidente dos EUA. A acusação e os indícios recaem sobre Pete Garrison (Michael Douglas), que detém um affair com a Primeira Dama (Kim Basinger), sendo que a responsabilidade de apurar a verdade dos factos caberá à dupla de agentes David Beckenridge (Kiefer Sutherland) e Jill Marin (Eva Longoria), ambos lançados por Pete Garrison.
Trata-se de um filme de conspiração banal, sem rasgo de inspiração e onde qualquer episódio da serie "24" tem mais emoção do que os 108 minutos desta fita... foi pena porque com actores deste calibre e com um bom argumento/bom realizador poderia fazer-se uma boa fita de acção e suspense com qualidade. É triste ver actores assim a fazerem papeis sem espessura e com "backgrounds" tão fracos como a animosidade de David face a Pete e a iniciação de Jill nos Serviços Secretos...
Acaba por ser um simples telefilme, com uma qualidade superior e melhores actores, mas ainda assim melhor que coisas como "O Coleccionador de Olhos" com o wrestler Kane... brrrr!!!
Carpe Diem.

setembro 23, 2006

Uma Despedida em Sangue...

Este ano resolvi experimentar o ecran gigante ao ar livre do evento Optimus Open Air e a escolha do filme recaiu na ante-estreia portuguesa do mais recente filme de Brian de Palma (apresentado 2 semanas antes no Festival de Veneza como ante-estreia europeia), baseado num livro do escritor James Ellroy de seu nome "A Dália Negra".
Trata-se de um filme "noir", passado na década de 40, sobre 2 policias boxeurs (Lee Blanchard e Bucky Bleichert) que criam uma parceria peculiar derivada do oportunismo, sendo um deles corrupto e o outro pretende manter um "low profile"... tudo irá mudar com a morte de uma aspirante a actriz, Elizabeth Short. Este assassínio modificará a Vida de todos aqueles que o investigarão, numa teia de oportunismo, corrupçaõ e sobretudo obsessão que afectará os dois detectives.
Durante a primeira hora de filme quem tenha lido o livro reconhece-lhe uma fidelidade extrema, sendo que De Palma devido à economia narrativa imprimida, consegue que não se perca o ritmo. No entanto, a partir da morte de Lee Blanchard, tudo muda e quanto a mim o final não foi o mais bem conseguido com um anti-climax demasiado apressado e pouco surpreendente.
Apesar do que referi, não considero o filme totalmente falhado, as interpretações são boas, a realização é competente e o clima do livro é transposto para o filme em toda a sua plenitude... falta-lhe mais garra e vontade de arriscar, contudo e tendo em conta os filmes que passam em Portugal, trata-se de uma excelente escolha e uma quase obra-prima.
Em termos de interpretações, as mulheres levam a palma com uma Scarlett Johansson num papel simples mas cheio de glamour, Hilary Swank surpreende na típica "femme fatale" de um egocêntrismo absurdo, sendo o maior destaque para a interpretação de Mia Kirshner numa Betty Short cheia de sonhos representados pelo seu olhar perdido mas que a falta de talento não lhe permite ir mais longe.
No que respeita aos homens é tudo muito fugaz, sendo a personagem mais desenvolvida a de Bucky Bleichert (Josh Hartnett), no entanto, o actor em minha opinião apresenta-se demasiado apagado e inexpressivo salvando-se a sua voz perfeita (tal como já se tinha comprovado no filme "Sin City") para o "off" de um filme "noir". Tendo em conta a matéria prima do livro lamento que não tenha sido dada maior relevância a personagens como Lee Blanchard (as razões da sua obsessão são apresentadas muito superficialmente), Ellis Loew (um procurador em busca do sucesso sem olhar a meios), Ramona Linscott (uma psicopata pouco desenvolvida) e a dupla George Tilden/Emmett Linscott (a dupla na origem de tudo). Inclusivamente, o quadro do palhaço que ri, crucial para o livro é apenas aqui mais um artefacto que leva à conclusão da culpa no assassínio de Betty Short.
Ao contrario da adaptação ao cinema do livro "LA Confidencial" (Curtins Hansom), De Palma mostra-se sem grande imaginação, exceptuando a sequência da morte de Blanchard, onde o seu estilo e força visual aparecem em força. Trata-se pois de um bom filme "noir" que poderia ser uma obra-prima se De Palma arriscasse mais e nao se preocupasse tanto com o ambiente, necessitando também de outros actores masculinos.
Leiam o livro, mesmo que seja depois do filme, e deixem-se levar pelo clima de corrupção, interesse, sonhos desfeitos, amores impossiveis e sobretudo obsessão. James Ellroy ao escrever o livro estava a dedicá-lo à sua mãe que também foi assassinada sem que se descobrisse o motivo ou o seu assassino, daí que na dedicatória esteja escrito: "... Mãe, passados 29 anos, esta despedida em sangue..."
Carpe Diem.

setembro 21, 2006

Corpos à Deriva

Desde que iniciei este blog ainda não tinha escrito acerca do cinema português e isso deve-se, basicamente, ao facto do cinema feito em Portugal ser sobretudo uma ideia intelectual que procura apenas interessar os próprios realizadores dos filmes como objectos hermeticamente fechados (como é o caso do cinema de Oliveira) ou cinema comercial sem chama (Crime do Padre Amaro ou os ultimos filmes de Joaquim Leitão).
Existe, no entanto, a excepção à regra como demonstra o mais recente filme de Fernando Lopes, de seu nome "98 Octanas". Gostaria muito de vos poder fazer um resumo da historia, no entanto, não se trata de uma narrativa no sentido convencional do termo, é antes da ordem da poesia, do encandeamento, do não dito, da contemplação e do diálogo.
Temos 2 personagens, Dinis (Rogério Samora) e Maria (Carla Chambel) que se encontram numa estação de serviço e partem à deriva, ou melhor, em busca de um rumo para cada um. Não existe explicação, não sabemos se eles se conhecem, mas descobrimos que são pessoas que procuram alguma coisa: ele a morte/redenção e ela o sonho/retorno à infância.
Trata-se de uma viagem dos sentidos, num ambiente esteticamente perfeito, com o olhar nos 2 seres à deriva, procurando um rumo no caos da vida actual e com tempo para contemplar o outro. Em minha opinião, o filme tem 2 cenas chave, uma passada num hotel de beira de estrada em que ela o confronta com os seus pesadelos e lhe mostra a possibilidade de morrer e a segunda num rio/lagoa onde ele se redime baptizando-a (um eco religioso, com o pecador a expiar os pecados?) e tomando-a nos seus braços, tendo como pano de fundo a belissima musica de Bernardo Sassetti.
A realização de Fernando Lopes é sublime quando opta pelo campo/contracampo, pelo grande plano ou em sequências nocturnas. Actualmente os espectadores de cinema não estão habituados a "olhar", a "sentir", a "ouvir" ou a integrar a paisagem no clima do filme (exemplo disto é a cena na praia com as ondas/discussão e a do pôr do sol/pecados mortais).
Num filme onde 2 actores dão tanto de si, não posso deixar de os referir, Rogério Samora como um ser amargurado e sem rumo, deixando contudo o protagonismo para Carla Chambel como a Mulher que lhe instilará a Vida e o fará percorrer o caminho dos sonhos, rumo à casa da avó (Marcia Breia).
Em minha opinião, o grande destaque do filme vai para Carla Chambel, porque o filme tem energia graças a ela, pulsa de juventude, tem força e coragem de arriscar (aquele gesto da mão a puxar as calças para se ver o tom da roupa interior foi intecional ou n? joga com a dicotomia entre inocência e preversidade). Maria é uma mulher que procura viver sem ter um destino fixo, apenas com o sonho de regressar ao local onde foi feliz e toda essa emoção nos é transmitida pela actriz.
O facto do filme não apresentar um final conclusivo torna-o ainda mais interessante porque os sonhos/poemas não têm de ser directos, são antes de mais percursos para descobrir, onde cada um encontra o seu caminho... dai a sequencia da árvore e do diálogo que se ouve no trailer, o facto do longe contradizer o perto, em minha opinião, tem origem no sonho e no rumo que cada um de nós considerar que o casal tomou a partir daquele momento. Fazendo a minha parte, penso que eles continuam em viagem até ao momento em que encontrem um espaço a que possam chamar o seu Mundo.
Se gostam de arriscar não percam este filme e sabem o que seria mesmo um sonho para mim? Ter no mesmo filme os actores Carla Chambel, Ana Moreira, Nuno Lopes e na realização a Teresa Villaverde... isso é q era!!! Mas enquanto o sonho não se realiza estou a preparar-me para assistir ao mais recente filme desta realizadora, de seu nome "Transe" e que estreia em breve.
Carpe Diem.

setembro 19, 2006

Mulheres de Força

Nos últimos anos, Pedro Almodovar tem realizado pequenas pérolas cinematográficas num misto de homenagem às Mulheres ("Tudo Sobre a Minha Mãe" e "Fala com Ela") e pedaços autobiográficos da sua vida ("Má Educação"), sendo que no caso deste filme poderemos encontrar um misto dos dois.
O filme retrata a vida de 5 mulheres, originárias de uma vila em La Mancha (terra natal de Almodovar) e do seu regresso às raizes: Raimunda (Penelope Cruz) vive em Madrid com a sua filha Paula (Yohana Cobo) e o marido alcoólico e desempregado Paco num mundo de sentido único e sem rumo; Sole (Lola Duenas), irmã de Raimunda gere um cabelereiro ilegal em sua casa e sente a falta de carinho; Agustina (Blanca Portillo) uma vizinha da tia das 2 irmãs na terra que sofre de cancro e apenas quer saber se a mãe está viva e por fim Irene (Carmen Maura) a mãe das irmãs que, supostamente, faleceu e ajuda quem precisa.
O inicio do filme dá o mote para o tema, um longo travelling num cemitério, onde as mulheres limpam as campas dos maridos ou até as suas, num universo onde elas duram mais tempo e demonstram uma maior força de viver e lutar. Com este longo plano, o realizador demonstra que a força destas mulheres provem da terra e suporta tudo, desde um cancro a um incesto.
Apesar de não o considerar uma obra-prima, tem momentos fantásticos como toda a "aparição" de Irene como russa, a critica ao tele-lixo, a união e a coragem de uma mãe com e para a sua filha, uma musica que representa um regresso ao passado e uma mulher que mesmo sabendo que esta a sofrer não desiste de procurar qual o destino de sua mãe. O titulo do filme pode ter um significado de regresso, mas também um novo começo de vida...
A realização de Almodovar é sempre entusiasmante, no entanto, não consegue entusiasmar com a sua poesia como acontecia nos filmes referidos no inicio. Devo destacar a cena em que Raimunda canta a musica "Volver" para a sua filha e Irene escondida num carro sente cada inflexão como um bater do coração, simplesmente belo já que é uma musica de união e lembrança de um passado doloroso.
Neste filme encontramos o humor, o drama, o amor, a força, a coragem e mesmo um filme menor de Almodovar será sempre superior a muitos produtos cinematograficos das nossas salas que supostamente tentam transmitir emoções e não passam de banalidades.
Nas interpretações todas as mulheres são superiores desde a surpresa de Yohana Cobo até à maestria de Carmen Maura. Tenho de salientar 2 interpretações, uma Carmem Maura minimalista e que com um simples olhar diz o que a personagem sente e Penelope Cruz volta a ser a actriz de corpo inteiro que não conseguiu singrar em Hollywood.
Se querem emoções fortes com bastante humor à mistura, façam o favor de irem ver este filme porque vos pode surpreender... felizmente conheço a força das Mulheres e não me surpreende, porque sei do que elas são capazes e da garra e coragem que cada uma tem e isso graças a todas as minhas amigas que são Mulheres com M grande. Se existe algo de precioso neste Mundo não é o dinheiro ou o metal precioso, mas sim as Mulheres.
Carpe Diem.

setembro 14, 2006

Series de Culto - Dr. House


Actualmente a televisão tem vindo a apresentar séries com uma qualidade acima da média, tendo por detrás alguém do cinema. Este é o caso da série Dr. House (no original "House M.D.") que foi criada por David Shore e cujos episodios iniciais foram realizados por Bryan Singer ("Os Suspeitos do Costume" e os 2 primeiros filmes X-Men).
Trata-se de um drama hospitalar bastante original, centrado na figura do médico Gregory House (Hugh Laurie), responsável pelo gabinete de diagnósticos de um Hospital coadjuvado pelos médicos Eric Foreman (Omar Epps), Allison Cameron (Jennifer Morrison), Robert Chase (Jesse Spencer). Tem ainda, como seu principal amigo, o oncologista James Wilson (um fantástico regresso de Robert Sean Leonard do filme "Clube dos Poetas Mortos) e como chefe/ administradora do Hospital, Lisa Cuddy (Lisa Edelstein).
Á partida pareceria mais um drama hospital na senda do "Serviço de Urgências", no entanto, o carácter antisocial, desconfiado e único do protagonista, tornam esta uma das melhores series do momento que, mais uma vez, a TVI consegue estragar com o seu horário tardio (o tal fim de noite)... salve-se o canal Fox na Tv Cabo. O facto do Dr. House ter uma deficiência na perna, tornando-o dependente de medicamentos para suportar as dores, cria assim uma dicotomia entre médico/drogado que eleva o argumento e o nível dos episódios.
Não poderia escrever este texto, sem destacar a magnifica interpretação do actor Hugh Laurie como Dr. House, simplesmente assombroso, um actor inglês (os fãs da serie Black Adder de certeza que se recordam dele) num papel em estado de graça, aliado a argumentos originais e cativantes que, sendo emocionais nunca resvalam para o lamechas. Uma das originalidades desta série reside mesmo no facto de cada caso ser interpretado como se de uma serie policial se tratasse, com o "asassino" substituido pela doença e os "detectives" pelos médicos, procurando resolver os enigmas em contra-relógio.
Se gostam de entretenimento inteligente, vejam esta série (na TVI ou Fox), porque é deste material que se faz a grande televisão actualmente.
Carpe Diem.

setembro 11, 2006

United We Stand

Foi há exactamente 5 anos que tudo aconteceu, no entanto, só agora os americanos tiveram a coragem de mostrar o que sentiram, revivendo o momento mais negro da sua história através de 2 filmes: o primeiro a surgir foi este "Vôo 93", realizado por Paul Greengrass e o próximo será o "World Trade Center" de Oliver Stone.
Este "Vôo 93" reproduz, em tempo real (1 hora e 51 minutos), o que se passou com o avião da United Airlines que foi o quarto a ser desviado por terroristas neste fatídico dia e que se despenhou sem atingir o seu alvo (no filme apontam o Capitólio como destino final, mas também se falou na Casa Branca).
Trata-se de um misto entre documentario e ficção, dado que o realizador conseguiu reunir alguns dos protagonistas desse dia, nomeadamente controladores de vôo e militares. Ao optar por perfeitos desconhecidos para integrarem o avião (grande parte familiares das vitimas), o realizador impôs um nível de realismo superior onde quase tudo é encenado, excepção feita a um dos melhores momentos do filme quando os passageiros, na eminência de controlarem o avião, se despedem dos seus familiares através do telefone.
O maior mérito do filme reside nas cenas de bastidores como toda a sequência nas torres de controlo antes de vermos os aviões a embaterem no World Trade Center ou o pormenor da chegada dos passageiros ao aeroporto em atitudes banais... são momentos de grande tensão e onde nos apercebemos do elevado stress que afecta um controlador de vôo, bem como a tremenda desorganização entre as diferentes entidades responsaveis (FAA e Força Aerea) que poderiam ter minimizado os estragos feitos pelos terroristas.
É um filme feito de amor e coragem onde, no fundo, os passageiros do United 93 foram os primeiros a lutar contra o terrorismo (devido a um atraso na descolagem, os 2 aviões já tinham atingido o WTC quando os terroristas tomaram conta do United 93) e a reforçar o valor de uma América que não baixa os braços, apesar das dificuldades.
Trata-se pois de um filme humano, realista, que nos deixa um autêntico "murro no estômago" após a sua exibição pelo facto de não podermos mudar o que aconteceu ou acreditar que a tomada do aparelho pelos passageiros seria bem sucedida... os últimos minutos do filme são como uma montanha russa, muita emoção que duvido possa vir a acontecer no filme de Oliver Stone já que, segundo cronicas da América, parece muito "limpinho".
Se gostam de bons dramas reais, mesmo que o final não seja feliz, não percam este filme porque ajuda a reflectir e dá respostas às questões de "como foi possível que isto tenha acontecido".
Carpe Diem.