julho 18, 2005

Séries de Culto 4 - "Carnivàle"


Carnivàle Posted by Picasa

A febre de lançamento de packs com séries de televisão, em DVD, continua a sua expansão em Portugal, abrangendo desde séries nostálgicas (Verão Azul, Os 3 Dukes, Macgyver), séries com sucesso garantido e actuais (Seinfeld, Simpsons, Sete Palmos de Terra), séries maltratadas pela televisão que temos (ER, Os Homens do Presidente) ou aquelas que nunca estrearam por cá (A Feira da Magia - Carnivàle, Raymond e Companhia ou A Louca Vida de Larry).

A série de que vos falo tem o nome de "A Feira da Magia" e em Inglês "Carnivàle" e vem da prestigiada HBO. A história é bastante complexa e houve quem já comparasse este seriado como um mix entre "As Vinhas da Ira" de Steinbeck com o "Freaks" de Tod Browning e pitadas de David Lynch. Tentando resumir, trata-se da tipica luta entre o bem (Ben Hawkins) e o mal (Brother Justin Crowe), com a particularidade de tudo se passar nos anos 30 em plena Depressão nesse país chamado América.
Trata-se de uma história bem mais complexa, apenas assistindo se pode apreender toda a sua complexidade. O mais aliciante para mim é o facto de Ben percorrer os EUA com um circo (que dá o nome à série "Carnivàle") onde existe toda uma paleta de "freaks" como: o manager anão (o anão do Twin Peaks que falava ao contrário); um ajudante aleijado de uma perna; uma familia de dançarinas/prostitutas (pai, mãe e 2 filhas); uma rapariga que lê Tarot através da psique da mãe catatónica; 2 gémeas ligadas pela anca; um "homem lagarto"; uma mulher barbuda, um cego com poderes mentais (o excelente Patrick Bauchau, que podia ser visto na serie "Pretender"); uma encantadora de serpentes e o seu filho forte; o inevitável gigante (o actor que faz de gigante no filme "Big Fish") e um (a) manager invisivel com voz de Linda Blair (não creditada). Toda a série cresce quando se desenvolve a história do circo e os diferentes relacionamentos entre as personagens que o compõe.
Além de um excelente cast, toda a série reiventa uma mitologia e o papel da América no Mundo com um tom sujo e um ambiente fantástico. Não se assustem com as bizarrias e apostem na diferença e no que não conhecem, podem vir a ser surpreendidos.
Apesar da série ser viciante, a HBO decidiu terminá-la após a 2ª temporada (dizendo que tudo tinha ficado esclarecido) por falta de audiências, no entanto, a ideia é contraditória quando um canal de televisão que aposta forte na diferença (Sopranos, Sete Palmos de Terra, Sexo e a Cidade) recusa uma série adulta, dificil, mas muito compensadora apenas pelas audiências.
Arrisquem, comprem o pack e vejam se não tenho razão.
Carpe Diem

Duvidas...

Nos últimos tempos têm vindo a sair em Portugal diversos packs de séries em DVD, algumas que nem estreia televisiva tiveram (como é o caso da série falada acima) e outras que aparecem com uns selos deliciosamente caricatos.
A piada dos selos está justamente no que eles dizem, vejam 2 exemplos: o pack da 1ª série "The West Wing - Os Homens do Presidente" e o da 4ª série do "ER - Serviço de Urgência". Ambos os packs têm um selo pequenino onde diz "Série de Sucesso da TVI/Canal 1", a minha questão é muito simples, o que entenderão as empresas que editam os packs como sendo "sucesso"?
A série "Os Homens do Presidente" é excelente, tem o melhor Presidente dos EUA ficcional (Martin Sheen) e ganhou varios Emmys ao longo das temporadas já exibidas (candidata-se de novo este ano para Melhor Drama) e passa na TVI depois das 2 da manhã (quando não é às 3/4 da matina) durante a semana, isto é ter sucesso? Para mim isto é o sucesso de um videogravador ou de alguém com insónias. Se quiserem ver a qualidade efectiva da série estejam atentos ao AXN que tem vindo a passá-la.
A série "Serviço de Urgência" é um pouco diferente porque as 3 primeiras temporadas passaram em horário nobre, mas da quarta à sexta, foi tudo de madrugada se bem que sensivelmente mais cedo que a TVI (depois da 1 da matina).
Que tipo de sucesso se referem eles? Eu gostava que um dia todos os canais lusos em aberto fossem como a :2, horários cumpridos e sempre certos.
Carpe Diem
PS: Que se passa na SIC, cada vez que há jogo do SLB, deixam de dar a brilhante série "Desesperate Housewifes"? Que desespero!!!

julho 10, 2005

A Luta de um Pai


Guerra dos Mundos Posted by Picasa

O filme que criou mais expectativa, desde que se soube da intenção de Spielberg em pegar no livro de H. G. Wells, ai está nas salas portuguesas, uma semana após a estreia americana e pode criar algum descontentamento em algumas pessoas. Este filme não é um "humanos contra aliens" e nada tem a ver com outro filme catástrofe como "O Dia da Independência" é, acima de tudo, um filme que perspectiva a posição de um pai no seio de uma familia desfeita pelo divórcio e o seu papel na educação dos filhos.
O realizador é mais conhecido pela demonstranção de que os aliens são bons (como em "ET" ou "Encontros Imediatos do Terceiro Grau") do que a mostra de violência sobre os humanos, no entanto, este filme reverte toda essa ideia, existindo sequências bem fortes em termos gráficos ou puramente imaginativos. Eu tenho a ideia de que um filme de terror é mais eficaz quando não mostra tudo e o suspense se demonstra por gestos, sons, silencios... este filme tem todos os ingredientes para quem, como eu, é adepto deste tipo de suspense, quem pretender ver tripas e afins engana-se no filme.
Desde logo se notam influências do 11 de Setembro, nomeadamente, nas sequências das roupas a cairem do céu (os aliens lançam raios sobre os humanos que os desfazem como pó, no entanto, as roupas ficam intactas) e das cinzas que ficam impregnadas nos personagens. A ideia de que os aliens já estariam entre nós, enterrados no solo, apenas aguardando serem "acordados" pelas naves que se encontram no céu é decalcado das unidades terroristas espalhadas pelo Mundo, sendo curioso que a primeira pergunta de Rachel seja "são terroristas?".
Os efeitos especiais deste filme estão excelentes, mas o que aqui sobressai é a história de um pai ausente que descobre o sentido da paternidade e procura proteger os seus filhos a todo o custo, exemplo disto é toda a sequência da cave com a personagem de Tim Robbins (excelente num homem obcecado e em choque), para mim a melhor de todo o filme.
Quanto aos actores, Tom Cruise tem uma interpretação na esteira do que fez em "Relatório Minoritário" e quer-me parecer que a sua parceria com Spielberg está a ser bem produtiva ao contrário da dupla Scorcese/Di Caprio. A grande interpretação do filme é da actriz Dakota Fanning que tem dado que falar desde o primeiro filme onde entrou, é sempre um prazer vê-la actuar e espero que não se perca na transição para adulta.
Com este filme, Spielberg, regressa ao seu melhor depois de um filme menos conseguido (Terminal de Aeroporto) e num tema completamente atípico e diferente do que ele nos habituou, em termos de ficção cientifica. Quanto a mim, o filme apenas peca em pequenas coisas como sendo a sequência final e o facto de não explicitar (para quem não conhece a obra original) o porquê da decadência dos aliens e dos seus tripods mecânicos.
Em resumo, trata-se de um filme sobre o lado humano da Vida e não tanto pela luta entre humano/alien ou carne/máquina. Vale a pena descobrir este filme, sentir o medo por sugestão em vez de ver tudo. Uma ultima nota para todas as sequências de americanos em fuga, raramente se vê refugiados americanos em filme (ou na vida real) e este pode ser um factor estranho a um americano aquando do visionamento do filme.
Um filme que joga com os medos actuais, mas não era isso que fazia "O Tubarão" ou "Duel", filmes anteriores de Spielberg? Entertenimento para pensar e um filme a não perder para quem gosta de boa ficção cientifica. Quem espera um blockbuster de ficção cientifica com plena diversão aguarde a estreia de "O Quarteto Fantástico".
Carpe Diem.

Pinguins ao Poder!!


Madagascar Posted by Picasa

Os filmes de animação por computador continuam as suas experiências e desta feita trazem a história de 4 animais (um leão, uma zebra, uma hipopotama e uma girafa) que têm curiosidade de conhecer os espaços abertos, onde são originários, e para isso vão à aventura mesmo que tenham de perder as mordomias de um Zoo em plena Nova York.
A animação está cada vez mais desenvolvida e o humor continua constante, apesar da história fraca, comparativamente com os dois "Shreks" ou mesmo "Os Incriveis". Apesar disso, este filme revela 4 personagens completamente delirantes e que roubam, literalmente, o filme às personagens principais: os pinguins (foto acima). É hilariante cada sequência onde eles entram e o final está simplesmente estupendo (apesar de indiciar a inevitável sequela) com estas personagens a imitarem aqueles americanos de suburbio a bronzearem-se nos seus quintais com paineis de aluminio que reflectem o sol nos seus rostos.
Trata-se de um filme simples, com piadas certeiras (algumas bem adultas como a sequência da saida da Gloria do caixote com 2 caranguejos e uma estrela do mar em "locais estratégicos") e uma animação cada vez mais fluída. Apesar do humor iconoclasta e divertido, é pena a história não ser mais desenvolvida e o filme deter apenas uma leitura, ao contrário de um Shreck.
Carpe Diem.

julho 04, 2005

Racismo na América


Colisão Posted by Picasa

O género de filme em mosaico (como o Magnólia ou Short Cuts) está de regresso ao cinema, desta feita sobre um tema bastante actual, o racismo e o relacionamento (ou a falta dele) entre as pessoas no Mundo de hoje. O filme retrata a vida de uma série de pessoas, aparentemente desligadas umas das outras mas que, de alguma forma, se inter relacionam e os seus preconceitos relativamente a tons de pele ou etnias.
A acção passa-se em Los Angeles, uma das cidades americanas com mais etnias e onde os conflitos raciais surgem sempre como um barril de pólvora, este filme acaba por ser incómodo para os americanos em certos momentos, reforçando a hipocrisia do "american way of live".
O filme tem o argumento/realização de Paul Haggis (o mesmo autor do argumento de Million Dollar Baby do Eastwood) e para primeira obra está estupendo, o filme tem drama, humor negro, contradições à americana e acima de tudo um sentido de urgência em denunciar as hipocrisias do sistema.
Várias etnias são representadas no filme, desde negros, hispânicos, persas, chineses com todas as vissicitudes associadas a cada um e esteriotipos que nem sempre funcionam. Nem tudo é simples, como se pode ver na sequência que deu origem ao poster do filme, e nem todos os esteriotipos se ajustam (como o caso dos irmãos negros, um policia e outro delinquente ou o serralheiro hispânico).
As interpretações são, de um modo geral, surpreendentes com um bom naipe de actores e onde alguns chegam mesmo a contrariar a tendência dos papeis habitualmente representados em cinema, como a Sandra Bullock, Matt Dillon e Brendan Fraser.
Como diz a personagem de Don Cheadle, logo no inicio do filme, o problema de Los Angeles é a falta do toque, a ideia de que as pessoas se afastam na rua para não se tocarem e depois acontecem os acidentes de carro na estrada como forma de substituição. O Mundo actual é vivido a 200 à hora e cada vez mais se torna mais dificil ter tempo para as relações, este filme mostra esta situação de uma forma exponencializada pelo racismo.
Uma boa surpresa cinematografica e um filme a não perder.
Carpe Diem.