Sonho de Cinema

Tenho a agradecer ao Indie Lisboa a possibilidade de poder assistir em cinema a este filme mágico que adapta a BD de Dave McKean e Neil Gaiman, dois magos da nona arte, considerados dos melhores no ramo (a par de Alan Moore e Frank Miller). Através do "hype" que foi surgindo, fiquei a saber que a obra destes 2 artistas chamada "Mirrormask" tinha sido adaptada ao cinema e esperancei-me de que um dia o nosso país fosse capaz de arriscar em filmes diferentes e menos imediatos. Felizmente existe o Indie e os cinemas do grupo Medeia que conseguem exibir cinematografias/objectos menos comerciais (como a mais recente produção de Matthew Barney/Bjork de que falarei após visionamento no Indie).

Pode-se dizer que este filme é um mix entre a história da Alice no País das Maravilhas e o Feiticeiro de Oz (com a diferença de, neste caso, o regresso a casa se fazer com a mascara do titulo) num deslumbramento de cores e magia, a cargo da produtora de Jim Henson, com o toque de Dave Mckean (responsável pela realização e design) e o argumento de Neil Gaiman (como na BD que lhe deu origem).

A nível artistico é um filme maravilhoso, surrealista, imaginativo, sonhador... sentimos que o mundo desenhado por Dave Mckean pode ser real, é bom sentir que a industria cinematografica ainda é capaz de arriscar assim numa obra diferente e arrojada. Em termos de história, temos Helena uma jovem de 15 anos que trabalha com os pais num circo e cuja mãe terá de ser operada ao cerebro (um tumor?), sendo que o seu maior sonho é deixar a sua vida actual e conhecer a "vida real". Ainda é preciso referir que Helena usa como escape o desenho criando o seu próprio mundo.

Na noite da operação da sua mãe Helena entra num mundo diferente, as Dark Lands, com sábios gigantes, grifos, esfinges, macacos-passaros, onde todos usam máscaras para expressarem sentimentos... existe o lado da luz e o da escuridão como dois lados de uma folha de desenho e ao mesmo tempo Helena descobrirá partes do seu futuro e as consequências da sua rebeldia (lado negro) versus a vida de magia (lado da luz).

Apenas posso dizer que, apesar da história precisar de mais movimento/desenvoltura, trata-se de um filme que nos deixa de boca aberta perante uma Dark Land dos sonhos. Para quem conhece o traço de Dave Mackean e o talento de Neil Gaiman para a escrita não pode deixar perder este conto infantil para gente adulta (não são todos assim?) com muito humor e magia. Agora resta-me sonhar que um dia seja adaptado ao cinema o mundo de Sandman, escrito por Gaiman.

Carpe Diem

A hora tardia não me impede de comentar um dos mais belos filmes que vi nos últimos tempos, graças ao evento Indie Lisboa (que decorre de 20 a 30 Abril no King/Londres/Forum Lisboa) que, pelo terceiro ano, me permite descobrir pérolas cinematográficas que nem sempre têm estreia comercial em Portugal.

Este filme teve a honra de iniciar o festival e posso dizer que, em minha opinião, o fez muito bem, porque detém uma sensibilidade extrema e muito humor. Trata-se do primeiro filme da artista plástica Miranda July, que tem arrebatado prémios em vários certames como Cannes e o Festival de Sundance.

Tal como o título deste texto, são instantes de Vida retratados com uma extrema simplicidade acerca de um grupo de pessoas muito especial. A personagem principal, Christine (Miranda July), é uma mulher que vê a vida de forma artístisca procurando com isso retirar o melhor que esta lhe pode dar e luta por um lugar num museu de arte contemporânea enquanto conduz um táxi para idosos. Ao mesmo tempo seguimos o percurso de Richard, recém-divorciado, com dois filhos (um de 14 e outro de 7, sendo que este último é o melhor actor do filme, simplesmente estupendo) e que trabalha numa loja de sapatos de um centro comercial.

São pessoas solitárias, a quem a vida não ajudou e que mesmo assim procuram seguir em frente... neste filme encontrei alguns dos planos mais belos dos ultimos tempos como as peripécias de um peixe dentro de um saco plástico, um filme/instalação com uns sapatos rosa, um diálogo sobre um relacionamento que dura uma rua, um encontro real proporcionado pela Net, um quadro que une 2 personagens, um espelho que se descola e por fim um Sol que nasce pelo som de uma moeda. Amor, Morte, Sofrimento, Iniciação, Libertação, Recuperação são tudo temas que passam por 95 minutos de cinema.

Existe espaço para o romance, para o humor, para a crítica feroz à arte contemporânea (a realizadora cria instalações para museus de arte contemporanea) sendo que no fundo a Vida é mais simples do que imaginamos e não precisa de ser vista a preto e branco...

Se puderem, não percam Sábado às 14:45 no King a repetição ou esperem pela estreia comercial (os mais apressados podem sempre comprar o DVD em zona 1 na FNAC) porque é destes filmes que se faz a magia do Cinema e dá prazer saborear cada momento.

Irei comentando, caso me surpreendam, os filmes que verei no Indie... é bom que exista um Festival assim em Lisboa que permita descobrir novos horizontes.

Carpe Diem.

Aqui está uma pequena brincadeira à qual não consegui resistir... acho que até está parecido (asas e tudo!! sou um santo!!).

A escolha do chapéu deve-se a não ter encontrado um tipo de cabelo idêntico ao meu e, ao contrário da sugestão de uma pessoa amiga, não me apeteceu ficar careca :)