maio 24, 2006

A Beleza das Coisas Simples


O Novo Mundo Posted by Picasa

O filme retrata o inicio da colonização da América pelos ingleses, a sua baixa cultura e as dificuldades que enfrentaram bem como os confrontos com os habitantes originais desse "Novo Mundo", os indios. Observamos a chegada do navio comandado pelo Capitão Christopher Newport (Christopher Plummer), trazendo a bordo um rebelde irreverente de nome Jonh Smith (Colin Farell), que terá uma nova oportunidade de viver nesta terra. Os novos habitantes tentam estabelecer contacto com os nativos, sendo Jonh Smith escolhido para a tarefa, ao entrar na povoação indígena fica a conhecer a filha preferida do chefe Powhatan, de seu nome Pocahontas (a estreante, linda e arrebatadora Q´Orianka Kilcher).
A atracção acontece, sendo de destacar toda a sequência que se passa na povoação indigena, torna-se o momento mais belo do filme, ai sim podemos observar como era um Mundo virgem, sem destruição, sem sentimentos negativos e onde se procura apenas aproveitar o máximo da Vida adorando o Sol e a Lua. São momentos de extrema beleza e poesia como só um filme de Terrence Malick pode apresentar, o seu constante uso da voz off é importante para salientar toda a beleza do momento, como um sonho.
O filme encontra-se impregnado de uma beleza estonteante que dura 2 horas e 15 mns (nunca sentimos o tempo passar) e reparamos em momentos como nunca antes em cinema, uma folha, um toque (toda a sequencia em que Pocahontas aprende palavras em Inglês com Jonh Smith é de uma imensa beleza e sensualidade), um olhar... é como se, ao olharmos aquelas paisagens sem fim e a natureza em todo o seu esplendor, nos permitisse reflectir e olhar com os olhos da alma.
A certa altura John Smith afasta-se e surge John Rolfe (Christian Bale) na vida Pocahontas e será este a mostrar-lhe o significado do verdadeiro amor, quando a deixa escolher, independentemente de a vir a perder para sempre. Pocahontas visita Londres e sente-se como um animal enjaulado, sem a sua liberdade, sem poder correr livremente pela Natureza e nós sentimos o seu aprisionamento como os animais enjaulados na recepção dos reis.
O cast deste filme é arrebatador, começando na jovem Pocahontas, passando por um torturado Jonh Smith em dúvida entre a descoberta de novos mundos e a paixão (ou sonho?) pela índia e terminando numa magnifica interpretação de Christian Bale, enquanto apaixonado que se sacrifica de modo a ser a unica pessoa no coração da sua amada.
Para quem viu o filme da Disney, ficarão desiludidos porque aqui não existe um final adocicado nem um amor avassalador (pelo menos da parte de Jonh Smith), no entanto, é bem mais realista e belo assim... se gostam de respirar a Vida, não deixem passar este filme de 5 estrelas!!!
Poesia pura em movimento... depois de ver um filme de Ron Howard poder escolher este é uma benção que ainda vai sendo possivel nos cinemas portugueses.
Carpe Diem.

Um "hype" de desilusão


O Codigo Da Vinci Posted by Picasa

Antes de falar do filme devo referir que li o livro de Dan Brown e, independentemente de acreditar ou não nas suas teorias, gostei da forma como a história é contada e o vicio que o mesmo incute, fazendo com que passemos as folhas de forma frenética numa narrativa cinematográfica. Alguns de vós podem considerar que se trata de literatura de aeroporto, no entanto, não se pode negar o facto de se tratar de um "page turner" compulsivo com capitulos curtos e acção a rodos.
A história prestava-se a uma adaptação cinematográfica, apesar das suas 544 páginas fazerem prever muitos cortes ou a necessária condensação de trechos do livro, a partir do momento em que se tornou um "best - seller" era uma questão de meses para que o filme surgisse... a partir do momento em que anunciaram o realizador (Ron Howard) a desilusão apossou-se de mim.
Para quem leu o livro imagina o filme como sendo um misto de Indiana Jones com tema religioso, uma busca incessante de enigma em enigma até decifrar a descoberta do Graal, mas o produto final anda muito longe disso... parece um filme sob encomenda, com um argumento fiel ao livro, sem chama, com uma realização tarefeira (aqueles flashbacks históricos parecem de um filme série B xaroposos, com direito a brilho e tudo!!), uma dupla de protagonistas (Tom Hanks e Audrey Tautou) que não demonstra quimica e um ritmo incostante.
A história deve ser conhecida de muitos, no entanto, aqui vai um resumo: um professor de simbologia americano (Robert Langdon) é chamado ao Museu do Louvre, após dar uma conferência em Paris, na noite em que o responsável do museu é assasinado, deixando um rasto de simbolos e pistas por decifrar. No museu, Langdon conhece a neta do curador (Sophie Neveu) que irá tornar-se na sua companheira de aventuras em busca do Graal, com Templários, Priorado de Sião e Opus Dei por detrás de uma história que poderá mudar a face da Igreja para sempre.
Como já referi antes, a realização do filme carece de imaginação, limita-se a descrever o que se passa e em muitas situações torna-se demasiado descritiva (compare-se o final do livro e o do filme e só faltam as setas luminosas em neon neste último para completar a cena)... existem "flashbacks" importantes, como o do passado dos protagonistas e há uma forma inteligente de ultrapassar o facto de não terem sido autorizados a filmar dentro da Abadia de Westminster, mas é muito pouco em 149 minutos de filme. O filme que não seria nas mãos de outro realizador e compare-se a força do "Mary" de Ferrara com este filme de Howard...
Quanto ao elenco, existem erros de casting, nomeadamente nos protagonistas... Tom Hanks aparece em piloto automático e com um cabelo que não convence (para quem leu este livro e "Anjos e Demónios", sabe que Langdon é uma personagem forte e charmosa) e Audrey Tautou é demasiado frágil para toda a força da sua personagem. Além do mais, e ao contrário do livro, não existe quimica entre as 2 personagens, sendo abraço final das cenas mais penosas do filme. Não existe emoção, a fuga e a descoberta dos mistérios acontece de forma maquinal e sobrepõe-se a momentos de grandes diálogos, tornando-o demasiado inconstante e aborrecido.
Nem tudo é mau no casting, tenho de destacar a personagem de Ian McKellen (Sir Leigh Teabing - um historiador inglês obcecado pelo Graal) que só por si merece o bilhete de cinema, o Silas de Paul Bettany (merecia mais desenvolvimento como tem no livro) e o polícia de Jean Reno (a melhor cena do filme pertence a esta personagem quando descobre que foi traido pelo bispo da Opus Dei).
As reacões em Cannes (onde o filme teve ante-estreia mundial) foram arrasadoras com a plateia a rir após a descoberta final, no entanto, parece-me demasiado dado que quem leu o livro entende a trama... o problema é quem não o leu e for ver o filme, acabam por perder muito do que é importante e o gozo de descobrir o que acontece a seguir (coisa que deve ter horrorizado Ron Howard).
Em Cannes e acerca da polémica relação entre Jesus e Maria Madalena que o filme/livro revelam, Ian McKellen foi mordaz ao dizer que finalmente foi ultrapassado uma das teorias que dizia que Jesus era gay (orientação sexual do actor plenamente assumida)... falta emoção, gozo, sentimento neste filme e foi isso que me desiludiu.
Se gostaram do livro podem gostar do filme, mas para quem ainda não o leu é preferivel que o façam antes de verem o filme...
Carpe Diem

maio 15, 2006

A impossibilidade de morrer - Parte 3...


Missao Impossivel 3 Posted by Picasa

Para que não pensem que apenas vejo filmes de arte e ensaio ou menos comerciais, resolvi deixar um texto sobre o primeiro "blockbuster" desta Primavera/Verão. Confesso que depois do exercicio de estilo de De Palma e da pirotecnia exagerada de Jonh Woo, a ideia de ver um filme da serie Missão Impossivel realizada por J. J. Abrams (realizador/criador das series de culto "Alias - Vingadora" e "Lost - Perdidos") viria trazer um novo fôlego.
Na minha opinião foi algo falhada esta aposta, se bem que este novo filme apresenta grandes novidades como um vilão cerebral (estupendo Philip Seymour Hoffman), um heroi mais humano e as reviravoltas (ainda que previsiveis) habituais de J. J. Abrams. No entanto, mantém ao longo da pelicula momentos completamente delirantes, mas é disto que se fazem os "blockbusters"...
A história conta-se facilmente, Ethan Hunt encontra a mulher da sua vida e decide casar-se, para isso abandona o serviço de campo no IMF e dedica-se ao treino de novos agentes. Quando uma das suas agentes, a quem deu o aval de poder trabalhar sozinha, entra em apuros Ethan regressa ao activo e enfrentará o vilão mais cerebral e astucioso de todos, Owen Davian, um comerciante de armas que detém a mais poderosa arma do Mundo (nunca chegamos a saber qual é e ai reside um dos interesses do filme). Tudo se complica quando, num acto de vingança, a namorada de Ethan é raptada por Owen...
Claro que as sequências de acção estão muito boas (todo o assalto para roubar a arma ou a invasão do Vaticano), a história emocional está bem conseguida e apresenta o espião noutro ângulo, mas o filme tem grandes momentos de incosistência... o maior deles é toda a sequência em Xangai, quando Ethan procura a namorada a correr que nem um louco e aos berros sendo o unico ocidental na area e ninguem o apanha ou persegue. Já para não falar da forma inglória como o vilão é derrotado.
Trata-se de um filme que não vem acrescentar nada à carreira de Tom Cruise (está muito mais interessante a vida pessoal que artistica) e, segundo as bilheteiras dos EUA, o filme encontra-se em vias de se tornar um grande flop... apesar de tudo J. J. Abrams conseguiu alterar alguma coisa na mecância destes filmes e conter a personalidade de Tom Cruise (produtor do filme). Se esquecermos a lógica, pode ser um bom filme para descontrair e esquecer logo de seguida, pior que o "The Fast and The Furious: Tokyo Drift" não é!! Infelizmente tive de ver o trailer antes do MI3 e não o recomendo ao meu pior inimigo...
Carpe Diem.
PS: Um grande filme de Verão e que estreiará no final deste mês dá pelo nome de "X-Men 3: The Last Stand", a não perder para quem gostou dos 2 filmes anteriores ou os seguidores da BD como eu :)

Sentidos da Fé


Maria Madalena Posted by Picasa

Há um ano a passagem deste filme pelo Festival de Cannes atribui-lhe o Grande Prémio do Júri e um novo fôlego à carreira de Abel Ferrara. Trata-se do regresso de um grande realizador experimental, como poucos no cinema americano. Após uma obra prima ("Funeral") e 2 filmes menos bem recebidos pelo público e critica ("New Rose Hotel" e "R Xmas"), traz-nos de novo a força do seu cinema e um tema que esteve por detrás, na minha opinião, da sua grande obra prima que é o filme "Policia Sem Lei": a religião.
Neste filme cruzam-se 3 histórias: a realização de um filme sobre Jesus no ponto de vista dos Evangelhos de Maria Madalena, a busca da fé da actriz do filme (uma serena Juliette Binoche) e a perda/redenção de um apresentador de "talk shows" americano (um estupendo Forest Whitaker) que se encontra a debater o Jesus histórico.
O filme dentro do filme ("Isto é o Meu Sangue" realizado por Tony Childress/Matthew Modine) procura debater a ideia da controvérsia religiosa de Maria Madalena ter sido a 13ª apóstola, e mesmo a mais importante, gerando conflitos com Pedro. A ideia de uma Mulher como igual junto de Jesus, modifica todo o ensinamento e o dogma da Igreja, dado que as mulheres sempre ficaram associadas ao Pecado Original... juntando a isto Jesus teria aparecido primeiro a Maria Madalena dizendo que a fé estava no intelecto.
Toda a história paralela do filme "Isto é o Meu Sangue" debate a ideia de intolerância religiosa, através da proibição e censura da igreja em filmes/livros, sem se preocupar em ver/ler o seu conteudo (como aconteceu com o filme religioso de Scorcese), bem como a ideia de um realizador omnipotente e ateu (apenas ele pode fazer o papel de Jesus) e que, apesar de não acreditar no que filma, acredita na arte e na polémica (um auto retrato de Ferrara?).
Na segunda história desvendamos a descoberta da espiritualidade pela actriz (Marie Palesi) que representa Maria Madalena no "filme dentro do filme" ao não conseguir abandonar a sua personagem. Marie acaba por não regressar aos EUA, viajando para Jerusálem em busca da sua paz interior e do seu bem estar espiritual sendo, inclusivamente, o "anjo" redentor do terceiro vertice do filme.
Por fim, seguimos a história de Ted Younger um apresentador de talk show que apresenta uma serie de programas, onde personalidades de diferentes religiões dissertam sobre o Jesus histórico e as diferentes formas de interpretar a fé. Em paralelo, seguimos a sua vida pessoal com a infidelidade e o afastamento gradual da sua familia até ao ponto em que algo corre mal e terá de recuperar a sua fé. Nesta parte do filme encontramos planos estupendos sobre Nova York, não são momentos de esplendor nem de dor mas sim de reflexão... uma cidade sem alma tal como o interprete, um Mundo feito de altura sem que com isso se atinja a plenitude.
Um dos melhores momentos do filme acontece numa conversa telefonica em que Ted pergunta a Marie o que deve fazer para que seja perdoado e ela responde-lhe que deveria falar com Deus... a resposta dele é de que não sabe como fazer isso. Neste excerto reside toda a mensagem do filme, a Fé depende apenas de cada um e a forma como a sentimos e exteriorizamos não implica que tenha de ser através de convenções de séculos, mas de acordo com a nossa própria consciência, sejamos católicos, ateus ou de qualquer outra religião.
Como diz Maria Madalena, a Fé parte do intelecto e não das ideias pré concebidas, trata-se pois de um filme onde cada um pode encontrar uma história diferente, desde que esteja aberto a ouvir os outros e a acreditar que cada dogma pode ser modificado pela consciência.
Ao contrário do filme de Scorcese ou do Código Da Vinci (não sei até que ponto Ron Howard será corajoso), este filme não gerou grande polémica dada a sua estreia reduzida e pouco comercial, a igreja também precisa dos holofotes para contrapor a sua critica... vejam este filme e depois critiquem ou concordem, mas não fiquem indiferentes.
Carpe Diem.

maio 01, 2006

Juventude à deriva


Twelve and Holding Posted by Picasa

Trata-se do filme que encerrou a 3ª edição do Indie Lisboa e, em minha opinião, com chave de ouro. O filme retrata a história de 4 jovens, com cerca de 12 anos: dois irmãos gemeos (Ruby e Jacob Carges), um rapaz obeso (Leonard) e uma rapariga de traços asiáticos (Malee Chung), cujas vidas se alteram com a morte de um deles.
O filme tem o seu inicio real quando Ruby e Leonard procuram proteger a casa na árvore onde se reunem com os amigos, de 2 colegas mais velhos que a querem destruir apenas pelo gozo. Estes atacam durante a noite com 2 coktails molotov desconhecendo que a casa estaria habitada, como consequência Leonard escapa-se com vida e Ruby morre. A morte do amigo irá despoletar uma serie de situações no seu grupo e reformular as suas vidas.
Leonard, com o incentivo do seu professor de ginástica, procura reduzir o seu peso e com isso cria desequilibrios na familia, toda obesa, que cultiva uma ementa pouco cuidada mas que, para eles é saudável. Os melhores momentos de comédia negra vêm desta familia, principalmente no momento em que a mãe de Leonard lhe diz que andar sempre a comer maçãs não é saudável. Um murro no estômago para uma sociedade que abusa de "fast food" e depois, hipocritamente, acusa desconhecimento quando se vê a engordar cada vez mais.
Malee entra na puberdade e como consequência a sua líbido aumenta, é filha de pais separados (a mãe psiquiatra e ausente e um pai que nunca chegamos a conhecer). A falta de apoio paternal, conjuntamente com as alterações biológicas, levam-na a interessar-se por um ex-bombeiro, paciente da sua mãe e pelo qual cria uma paixão (amor de pai) platónica. Por outro lado encontramos uma mãe que se recusa a dar a conhecer o pai à sua filha, dado a forma como este a tratou enquanto eram casados.
Jacob, a outra metade dos gémeos, é um jovem que nasceu desfigurado com uma mancha no rosto e cuja mãe lhe inculca a ideia de ser diferente e com isto dificulta-lhe a vida e a própria aceitação de si. Brilhante o facto da personagem recorrer à máscara usada pelo protagonista de "Sexta Feira XXIII" para lhe dar força e coragem, escondendo o rosto a coragem revela-se. Trata-se da personagem mais forte e complexa de todo o filme jogando sempre com a ambiguidade da violencia por vingança e a vontade de se afirmar como pessoa completa e igual aos outros mesmo com a sua deformação.
Existem mais enredos (a tentativa de salvação da mãe de Leonard, a vingança surda de Jacob, as feridas do ex-bombeiro, a recuperação da auto-estima por parte de Jacob e Leonard, o novo irmão de Jacob e a oportunidade de Malee conhecer o pai). O filme tem a realização de Michael Cuesta, um dos principais realizadores da serie "Sete Palmos de Terra", que demonstra aqui uma grande sensibilidade e um humor muito negro. Ainda é necessário referir o excelente cast juvenil deste filme, com interpretações fabulosas, sem que se possa destacar algum.
O retrato de uma América de suburbio através de 4 histórias com uma forte crítica ao "ser diferente", ao despertar do sexo, ao problema de excesso de peso (que afecta a juventude americana) e aos traumas da Vida fazem deste filme de pequeno orçamento uma pérola no meio das grandes estreias e prova que mesmo nos EUA existem pessoas empenhadas em contar histórias em detrimento da acção desenfreada.
Um filme a não perder para quem gosta sobretudo de uma boa história, com interpretações superiores e realização segura.
Carpe Diem.

Beleza Surreal


Drawing Restraint 9 Posted by Picasa

Até ao momento nunca tive a oportunidade de conhecer o trabalho de Mattew Barney (deixei escapar o ciclo Cremaster no King) e o Indie Lisboa permitiu-me conhecer em primeira mão (irá ter estreia comercial, provavelmente, no King) a nova obra deste artista cujos filmes normalmente são utilizados como instalações e não são exibidos em cinema. Neste caso,ainda encontramos um segundo ponto de interesse, dado que Bjork (mulher de Barney) co-protagoniza o filme e responsabiliza-se pela banda sonora.
Existem duas histórias que se cruzam neste filme, a primeira sobre um navio baleeiro japonês que instala no seu convés um molde para criar, ao longo do filme uma escultura em vaselina de nome "The Field" enquanto um casal cumpre um estranho ritual nesse mesmo navio (protagonizados por Barney e Bjork).
Todo o filme é composto de uma beleza estranha que coloca o espectador em constante desafio, logo o seu inicio é tão somente uma mulher a efectuar 2 embrulhos, no entanto, a beleza que isto proporciona é espantosa. Igualmente a ideia de colocar um grupo de dançarinos no meio de gigantescos navios cria um momento fantástico e hipnótico.
A sequência do casal a vestir-se com todos aqueles elementos aquáticos e a cerimónia do chá com o detalhe do modo como Barney vira a concha demonstram toda a beleza de cada plano que existe em todas estas pequenas coisas. Claro que podem dizer que Barney é louco, eu não o desminto, no entanto, consegue tornar cada plano mais belo que o anterior mesmo quando o casal de Visitantes termina o seu ritual num bailado de amor e facadas terminando na sua transformação em algo mais do que humano (uma baleia?).
Além das imagens existe a musica, da responsabilidade de Bjork, com imenso poder hipnótico que nos deixa literalmente presos ao ecran. Apesar de não existir um argumento linear (ou sequer existir um argumento), todas as imagens e sons são fabulosos mesmo tendo em conta a loucura de quem o realizou.
É um filme que obriga a reflexão e o debate, é disto que o cinema também precisa já que nos tempos actuais as pessoas preferem ter um filme formatado pela frente do que se deixarem levar e conhecer novos mundos e ideias.
Carpe Diem.

Dores de Criança


Criancas Invisiveis Posted by Picasa

Novamente e graças ao Indie Lisboa pude descobrir um filme impressionante e ao mesmo tempo absolutamente necessário nos dias que correm, trata-se de um conjunto de 7 curtas metragens de outros tantos realizadores (Mehdi Charef, Emir Kusturica, Spike Lee, Katia Lund, Jordan e Ridley Scott, Stefano Veneruso, John Woo) sobre a situação das crianças no Mundo, nomeadamente aquelas que são, aparentemente, invisiveis para nós.
O filme começa com a curta "Tanza" sobre uma criança guerrilheira em África, inteligente e com estudos, que foi angariada para uma luta que não lhe pertence... trata-se de uma das melhores curtas, na minha opinião, dada a beleza com que termina e o olhar da criança que interpreta a principal personagem.
A segunda curta chama-se "Blue Gypsy" e é um Kusturica puro, lamento mas não gosto mesmo nada do estilo... é uma história de "feel good" com todo o foclore dos filmes deste realizador que, em minha opinião, desde o filme "Gato Preto, Gato Branco" não se diferencia.
A terceira é uma das melhores de todo o filme (juntamente com a ultima) e pertence a Spike Lee, chamada "Jesus Children of America". Retrata a vivência de uma rapariga negra cujos pais são "junkies" e têm SIDA, tendo transferido para ela a doença. Em pouco tempo, Lee mostra toda a violência e ignorância que cercam os americanos e as suas familias, a falta de apoio, a mesquinhez das crianças, o ser diferente numa América que gosta sempre de apregoar a sua liberalidade, mas que não passa de um país ultra-conservador. Spike Lee ambienta todo o seu filme nos bairros negros com o 11 de Setembro em fundo, mais um filme espantoso de um realizador que não cansa de surpreender.
O quarto filme vem do Brasil e é realizado por Katia Lund, chama-se "João e Bilu" e é das curtas com mais vida do conjunto. Com muito humor vemos 2 crianças das favelas em busca de cartão e latas de modo a trocarem-nos no ferro velho por dinheiro... o melhor de todo o filme são mesmo os dois protagonistas que, com muito humor e inteligencia, conseguem elaborar as melhores ideias para ganharem dinheiro sempre com honra e sem desanimar. Aqui está um exemplo de vida.
O quinto filme chamado "Jonathan" de Jordan e Ridley Scott é dos piores do conjunto pelo seu pretensiosismo e falta de rumo, dado que mostra um fotografo de guerra a regressar a uma hipotética infancia rodeado de guerra e onde as crianças são as unicas sobreviventes... uma curta sem chama, com ideias de grandeza e sem sensibilidade.
O sexto filme de nome "Ciro", rodado em Nápoles, é bastante desequilibrado, com um inicio promissor sem que o resto convença... no entanto, devo frisar que nesta curta há momentos bons como toda a dança de sombras inicial, mas com falsos moralismos que estragam o conjunto.
Por fim, o filme que mais me impressionou em vários sentidos, primeiro porque é realizado por John Woo realizador habituado a filmes de acção e depois porque se trata do melhor momento de todo o filme e de uma sensibilidade extrema. Esta curta chama-se "Song Song and Little Cat" e cruza a vida de 2 crianças com modos de vida completamente opostos na cidade de Tóquio. Song Song é uma menina rica que tem tudo menos a felicidade, dado que os seus pais encontram-se em processo de separação enquanto Little Cat é abandonada pela sua mãe e encontrada na rua por um bondoso sem abrigo que cuida dela para que um dia possa ir para a escola, detendo assim a felicidade mas faltando-lhe tudo o resto. As vidas destas meninas encontram-se quando a primeira larga uma boneca na estrada, recolhida pelo "avô" da segunda e que passa a ser a sua companhia. Uma curta belíssima e que merecia só por si todo o filme, magistral toda aquela sequência da lavagem da boneca demonstrando que o amor e carinho são sempre as chaves para a felicidade.
No conjunto trata-se de um filme desequilibrado, com curtas fabulosas (Spike Lee e John Woo), curtas com muita qualidade (Mehdi Charef e Katia Lund) e curtas pretensiosas (Jordana/Ridler Scott, Emir Kusturica e Stefano Veneruso). De qualquer modo, se este filme tiver estreia comercial em Portugal, não o percam porque é importante ver e debater os temas que por aqui passam.
Carpe Diem.