julho 26, 2006

Um Tributo à Tate Modern


Em Novembro de 2005 tive o prazer de visitar Londres pela primeira vez e uma das minhas paragens obrigatórias foi o museu de arte moderna Tate Modern. Já tinha lido maravilhas sobre o seu espólio e pela forma como os ingleses aproveitaram uma antiga central eléctrica para instalar um dos museus mais respeitados do Mundo, no que respeita a arte contemporânea.
Visitar este espaço traduz-se no prazer de desfrutar de obras de arte dos século XX/XXI que incomodam, fazem pensar e agitam consciências!! Além das exposições permanentes (com Wharol, Lichenstein, Gilbert & George, Cindy Sherman...), encontramos sempre uma sala com exposição temporária interessante e que nos faz pensar o porquê dos nossos museus não enverderarem por algo do género. Além disto, a entrada do museu é gratuita e apenas quem deseje visitar as exposições temporárias tem de pagar entrada (normalmente 10 libras).
Quando visitei a Tate Modern estava em exibição uma retrospectiva de Rosseau, tendo perdido por meses a restrospectiva integral de uma das minhas artistas preferidas: Frida Kahlo. Ao contrário do que o CCB apregoava, somente a exposição da Tate foi a mais completa, neste momento trata-se de Kadinsky em destaque.
Uma das coisas que me impressionaram, pela positiva, foi a existência de 2 salas cujas paredes eram compostas por janelas panorâmicas sob o Thames e onde o visitante se pode sentar em sofás confortáveis para descansar, ler um livro, olhar a paisagem ou simplesmente meditar.
A ideia deste texto surgiu pela noticia divulgada hoje de que a Tate Modern irá construir um anexo ao lado do edificio actual para ampliar o seu espaço expositivo. O edificio terá a forma de pirâmide (ver foto acima) que, ao contrário da existente no Louvre, será assimétrica e tem a assinatura do atelier suio dos arquitectos Herzog & De Meuron (responsaveis pelo edificio principal da Tate Modern). O edificio será composto por dez pisos acima do solo e prevê-se a sua conclusão para 2012 (altura em que a cidade receberá os Jogos Olímpicos).
A Tate Modern demonstra assim a sua vitalidade e a importância que detém no panorama artistico mundial. Como curiosidade, o edificio principal foi inaugurado há 6 anos, recebendo cerca de 4 milhões de visitantes/ano, quando foi planeado para apenas 1,8 milhões.
Se puderem, vão a Londres e deixem-se inebriar por esta proposta inovadora de cultura.
Carpe Diem.

Jack Sparrow Forever!!

Nos últimos anos, os filmes de piratas tornaram-se um género morto em Hollywood, apesar de tentativas como as do realizador Renny Harlin ("A Ilha das Cabeças Cortadas"), e nada faria prever o mega sucesso da Disney após a estreia do filme "Piratas das Caraíbas - A Maldição da Pérola Negra". Todo o sucesso do filme, criou a ideia de uma triologia, sendo que os 2 filmes seguintes foram filmados em paralelo como sucedeu com a triologia "Matrix".
Este Verão estreou com pompa e circunstância o segundo filme da série, com o subtítulo "O Cofre do Homem Morto", trazendo de novo um dos melhores personagens criados por Johnny Depp (a verdadeira alma do filme), o infame Jack Sparrow. Com ele, regressam Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley), numa aventura ainda mais divertida e delirante que a primeira.
Grande parte (se não a principal e única) do sucesso do primeiro filme residiu no pirata com eye-liner, afectado, sem escrúpulos, egoista interpretado por Depp, acabando por tornar um filme do produtor Jerry Bruckheimer em mais do que um conjunto de explosões inconsequentes. No entanto, a magia que Depp insufla em Jack Sparrow apenas surpreende quem não conheça a sua filmografia, nomeadamente todos os maravilhosos filmes que fez em parceria com Tim Burton.
Jack Sparrow é realmente a alma do filme e sobre o qual toda a triologia gira, ele é capaz de se envolver com uma tribo de canibais e criar uma manobra de fuga com uma espetada de frutas ou tentar apanhar uma chave numa roda em movimento, em duas sequências hilariantes deste novo filme.
Desta vez Jack não vai lidar com os morto-vivos do capitão Barbossa (apesar deste ser a ligação surpreendente ao terceiro filme), mas com a tripulação de peixes/humanos do navio "O Holandês Voador", capitaneado pelo temível Davey Jones (um magnifico Bill Nighy) transformado numa especie de polvo e a quem o primeiro deve a sua alma. A caracterização de toda a tripulação está fabulosa, principalmente no que diz respeito a Davey Jones, o dono dos mares profundos deste Mundo.
Neste segundo filme encontramos mais aventura, comédia burlesca, sequências com monstros como um bom série B (o polvo gigante Kraiken), emoção (o reencontro de Will com o pai) e um final que nos deixa em suspensão e a aguardar ansiosamente a última (?) parte da triologia, no Verão de 2007.
Se procuram um filme de aventuras divertido neste Verão com muito calor, não hesitem, Jack Sparrow tem sempre momentos hilariantes para vos deixar de sorriso armado. Já estou a aguardar ansiosamente o suposto final da saga para descobrir como será que as coisas se vao resolver.
Carpe Diem.

julho 21, 2006

Surpresa de Verão

As férias permitem descobrir filmes que se deixou passar nas salas de cinema ou descobrir pérolas cinematográficas que, infelizmente, em Portugal passam directamente para DVD. O filme em causa neste texto, pertence à primeira categoria e chama-se "Senhor da Guerra". Trata-se de uma intensa crítica social, no mesmo âmbito de filmes recentes como "O Fiel Jardineiro", "Syriana", "Boa Noite e Boa Sorte". Desta feita o tema é a industria do armamento e o mercado ilegal de armas.
Trata-se da história de Yuri Orlov (um magnifico Nicolas Cage), filho de emigrantes ucranianos residentes nos EUA e donos de um restaurante típico do seu país em Little Odessa (Nova York). Yuri detém elevada ambição, sendo que a gerência de um restaurante não lhe chega e o clima de guerrilha das mafias ucranianas incutir-lhe-á o desejo de negociar armas e, sobretudo, ganhar dinheiro.
O mais curioso do filme reside no facto de seguirmos sempre a perspectiva de Yuri, os seus desejos (a conquista da mulher que sempre desejou), a forma como negoceia (só não negoceia com Bin Laden porque este paga com cheques carecas) e os seus escrúpulos (ou a falta deles). Com o desenrolar do filme surge uma segunda personagem chave, um concorrente no negócio de armas, Simon Weisz (Ian Holm), desta feita um negociador com principios pois só comercializa armamento às facções que lhe interessam.
O ambiente de todo o filme é corrosivo sobre a necessidade de armas (segundo o protagonista as armas matam menos que o tabaco e o alcool), os negócios com os senhores da guerra, as guerrilhas em África e a ironia dos seus nomes, a troca de armas por diamantes, a ironia quando aponta os EUA como o maior exportador de armas, a luta pelo armamento russo após a queda do Muro que se torna uma vantagem competitiva para quem lá chegar primeiro. Tudo isto se passa de forma vertiginosa, com um protagonista amoral e que se sente bem a negociar armas, porque sente ser isto o melhor que sabe fazer na Vida.
O realizador do filme, Adrew Niccol, cria um estilo agressivo e inovador, com destaque para o brilhante genérico que segue uma bala desde a sua criação até atingir a cabeça de uma criança, deixando desde logo vincado que a finalidade será sempre a morte.
Existirá castigo e justiça para uma pessoa que não se preocupa com mortes resultantes de armas e apenas lhe interessa o lucro que obteve das suas vendas? Talvez, a não ser que o dinheiro seja a resposta... no caso de Yuri é.
Se gostam de filmes que façam pensar e discutir o que se viu, arrisquem e aluguem/comprem este "Senhor da Guerra", não ficarão desiludidos e poderão ter uma bela surpresa tal como me aconteceu.
Carpe Diem.

Afinal o "fast food" é bom...

Estamos na altura do cinema de evasão e de diversão e, aproveitando que as crianças se encontram de férias surge um "boom" de filmes de animação. Desta feita, é um filme dos estudios Dreamworks, quanto a mim, o único capaz concorrer com a parceria Pixar/Disney.
A mais recente loucura dá pelo nome de "Pular a Cerca" e baseia-se num comic americano de grande sucesso, tendo por protagonistas 10 deliciosas personagens. A história é simples, com o desenrolar das aventuras de um conjunto de animais forregadores que, ao acordarem da sua hibernação, deparam com um muro de relva e um condominio de luxo habitado por humanos... a busca por comida para o próximo Inverno começa, mas a intervenção de um "racoon" (perdoem-me não saber o equivalente em português) irá modificar todo o conceito de armazenamento, de comida e de familia.
Trata-se de um filme hilariante, ainda que inferior à saga Shreck (preparem-se porque o ogre verde estará de volta este ano para a terceira parte), com momentos deliciosos tal como o primeiro contacto dos animais ao "fast food" (acabam mesmo por se viciar neste tipo de alimentação, contra a sua tendência mais vegetariana) e uma demonstração do poder sonoro do THX.
As vozes dos animais coadunam-se na perfeição com os actores, principalmente o Hammy (Steve Carell) e Ozzie (William Shatner). Um filme com uma mensagem simples, um argumento descomplicado e uma diversão garantida. Tentem ficar mesmo até ao fim do genérico porque ainda surge uma pequena cena divertida.
Pode não ser uma obra prima da animação, mas existem muitos motivos de interesse para agradar nesta época do ano.
Carpe Diem.

julho 20, 2006

Americana sob rodas

A partir do momento em que vi o filme "Toy Story" da Pixar fiquei completamente rendido ao tipo de filmes deste estudio, aparentemente infantis, mas cujos argumentos têm uma leitura bem adulta.
Ao longo dos anos, nota-se a evolução da animação na perfeição dos detalhes, na preocupação com o divertimento sem deixar escapar o lado ludico com o humor sempre a espreitar. O filme Pixar deste ano chama-se "Carros" e, tal como o nome indica reproduz, de forma antropormofizada, a vida de um conjunto de carros.
Acima de tudo, é um filme recheado de nostalgia americana, desde a celebre "Route 66" até aos grandes planos das paisagens de John Ford. A animação esta, simplesmente, genial e as vozes adequadissimas aos personagens em causa, principalmente Paul Newman num velho carro da competição Nascar.
O filme começa, como é apanágio dos filmes Pixar, com uma curta metragem deliciosa e bem divertida, no entanto, é inferior a de outras obras como os passaros do filme "Os Incriveis" ou o boneco de neve do "Monstros e Ca.". Trata-se de um filme em que devemos ficar mesmo até ao final já que todo o generico é divertido, sendo mesmo a paródia aos filmes Pixar um dos melhores momentos.
De qualquer modo, se procuram um filme divertido e uma história bem contada, com nostalgia e sentimento vejam este filme, mesmo que o seu lema seja banal, nunca e demais salientar que o mais importante são os amigos e as pequenas coisas/pequenos gestos da Vida.
Não é de todo um filme infantil, direi que é uma animação inteligente para adultos, não percam este e o mais recente filme da Dreamworks ("Pular a Cerca") do qual criarei um outro texto.
Carpe Diem.

julho 19, 2006

Desagregação Familiar

O cinema independente americano continua a surpreender, desta feita pelas mãos do mais recente "golden boy", de seu nome Noah Baumbach. Trata-se de mais um realizador da nova geração de nomes como Sofia Coppola (ansiosamente espero o filme "Maria Antonieta") e Wes Anderson (produtor do filme).
A historia, autobiográfica do realizador, baseia-se num divorcio no seio de uma familia, aparentemente, funcional e as consequências para os filhos. Será sempre na perspectiva dos filhos que acompanharemos as diferentes fases do divorcio pelos pais.
A familia é composta por: um pai (magnifico Jeff Daniels) obsessivo, professor de literatura, sem conseguir publicar um livro novo e actuando como um guru para o seu filho mais velho; uma mãe (Laura Linney) que sente a falta de amor do marido e procura conforto em terceiros, enquanto se inicia na escrita provocando assim a inveja ao marido; um filho mais velho (Jesse Eisenberg) que idolatra o pai e segue sempre os seus conselhos, criando conflitos na sua vida e nas pessoas que o rodeiam e por fim um filho mais novo (Owen Kline) que apoia a mãe, mas cujo divorcio lhe trará varias sequelas como a dependência de alcool e a masturbação obsessiva em locais públicos.
Trata-se de um filme com um formato absolutamente realista e seco, onde as emoções aparecem sempre à flor da pele e o ridiculo de certas situações cria um humor negro e corrosivo. O inicio do filme explicita o que iremos ver quando a familia (antes do divorcio) joga uma partida de tenis com os pares (mãe-filho mais novo/pai-filho mais velho) a disputarem uma luta em vez de um simples desporto. Este inicio será um prenuncio da perda que as personagens enfrentarão ao longo do filme, sem que o seu final seja um "happy end".
O título curioso do filme ("A Lula e a Baleia") tem origem num medo do filho mais velho e também da sua ultrapassagem, num dos planos mais originais dos ultimos anos em cinema, um filme a não perder para quem gosta de historias reais contadas de modo irónico e simples sem açucar.
Carpe Diem.