março 30, 2005

Ideias sobre Arte Contemporânea


Impossibility Posted by Hello

A ideia para este texto surgiu de uma noticia de hoje onde o artista britânico Damien Hirst admitia ter feito algumas obras "...tolas..." ao longo da sua carreira. Após ler a noticia, imaginei que seria interessante reflectir se poderemos considerar Arte aquilo que este homem faz.
Para quem não conhece o artista de que falo vou fazer um brevíssimo resumo: trata-se de um artista plástico/conceptual inglês, com 39 anos, que habitualmente cria "obras" controversas, as quais ocupam salas inteiras (conhecidas como instalações). Exemplos de obras suas são instalações de tubarões conservados em formol (ver foto acima, a "obra" chama-se "The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living"), o uso de borboletas vivas e/ou mortas para compôr um mosaico, cabeças de vaca em estado de putrefacção, um Cristo pregado na cruz feito de cigarros e aquela obra que mais polémica criou, onde o Papa em tamanho real era apresentado caído no meio de uma sala com uma pedra em cima.
O conceito de Arte tem mudado ao longo do tempo, no entanto, em termos meramente pessoais e de gosto, não considero Damien Hirst um artista, e custa-me chamar obra de arte ao que ele apresenta. Prefiro um Christo (são gostos...) com as suas instalações ecológicas (tema para um próximo texto) do que um homem que procura acima de tudo chocar. É certo que a Arte deve interrogar, fazer pensar, mudar perspectivas de vida, mas quando isso se faz tendo por base o choque e mostrando coisas sem sentido, para mim não é arte com A grande, é sensacionalismo.
É certo que um artista como Damien Hirst ou se ama ou se odeia, mas o curioso é que na noticia de hoje ele considere que algumas obras são "...tolas...", que fez algumas coisas "...embaraçosas..." e que "... não são de todo obras de arte...". Tem mérito por isso, no entanto, como ele existem muitos denominados artistas que por utilizarem o choque e serem bem trabalhados em termos de marketing se elevam ao mundo da Arte.
Como nota final deixo um tema para debate, a nova "criação" de Damien Hirst (patente na galeria nova-iorquina Gagosian) são pinturas realistas baseadas em fotografias de imprensa, às quais se limita a dar o último toque para justificar a sua autoria. Gostava que, quem ler este texto comentasse a frase do artista acerca deste novo trabalho:
"... Não gosto da ideia de que uma obra de arte tem de ser executada por um artista. É uma ideia antiquada. Os arquitectos não constroem eles mesmos as suas casas...".
Digam de vossa justiça, isto é Arte? O que é Arte?
Carpe Diem.

Opus da Vida de um Homem Banal


O Assasínio de Richard Nixon Posted by Hello

Confesso que quando fui ver este filme entrei com menos expectativas do que aquelas de quando sai e isso meus amigos é a magia do cinema. O facto de nos podermos emocionar mais do que esperavamos, pensarmos que um filme não presta e depois sair da sala feliz, imaginar que um certo (a) actor/actriz não vale nada e ver que se transfigura no seu oposto, tudo isto é o que me faz amar o Cinema.
O filme passa-se em 1974 e retrata a vida (real) de Samuel Bicke (um assombroso Sean Penn), um homem perdido e desiludido com a Vida que decide tomar medidas extremas para alcançar o sonho americano. Samuel é vendedor numa empresa de mobiliário de escritório, está separado da mulher (uma presença fugaz de Naomi Watts) com a qual tem filhos e um melhor amigo negro (o sempre excelente Don Cheadle). O problema deste homem é não ser capaz de mentir, detesta a hipocrisia e o cinismo e procura lutar contra isso (o ultimo dos puros?), no entanto, para obter o seu "american dream", tem mesmo de se sujeitar às regras.
Vamos assistindo, ao longo do filme, à desagregação mental de um homem idealista e convicto da forma de proceder correctamente, um perfeito desajustado da sociedade e cuja hipótese de fuga surge na perspectiva de assassinar o presidente, Richard Nixon. Tal como a tagline do filme diz: "The mad story of a true man".
Sean Penn tem neste filme a melhor interpretação da sua carreira, vamos sentindo pelo seu olhar, pela forma como se deixa abater (fisica e psicologicamente) que este homem nunca poderá ser feliz no nosso mundo. O filme é bastante melancólico e triste, no entanto, aconselho-o vivamente para que assistam ao que pode acontecer quando não pertencemos a um lugar e perdemos as amarras que a ele nos fixamos. A figura de Nixon é subliminada, no entanto, existe um momento no filme que eu considero muito bom em termos de argumento, quando consideram que Nixon é o melhor vendedor de todos os tempos porque conseguiu ser eleito 2 vezes prometendo sempre a mesma coisa, retirar as tropas americanas do Vietname.
Um filme 5 estrelas e a ver atentamente antes que saia de exibição, tão discretamente quanto entrou.
Carpe Diem.

março 28, 2005

Para Reflectir...

Há sensivelmente 8 anos conheci uma pessoa pela Net, nessa altura, não imaginava o impacto que ela teria na minha vida. Trata-se de uma Mulher (com M grande) do Norte (com um pouco de sotaque, carago!!!) que, desde ai, mostrou o poder da amizade e do carinho. Não é preciso 2 pessoas estarem perto para se ouvirem, basta um pensamento, um telefonema, uma carta (sim, eu ainda escrevo cartas sem serem mails) para que se sinta o outro mais perto. Ela sabe que se precisar e quando precisar eu estarei lá, mesmo que não seja fisicamente, será sempre com uma palavra ou um gesto.
Ao longo de todo esse tempo tivemos oportunidade de nos conhecer, de encontrar um espaço no coração um para o outro e posso dizer que a melhor coisa que fiz foi cultivar essa amizade, porque ela é das pessoas mais importantes da minha vida. É de pequenas coisas que retiramos o sal da Vida, essa Amiga de quem muito me orgulho chama-se Sofia Miranda e hoje enviou-me, via mail, o poema que deixo em seguida, reflictam e pensem em todas as pessoas que passaram na vossa vida e se não acham que basta dizer uma vez (mesmo que não se falem há muito) o quanto importante essa pessoa é para nós:
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa na nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade da nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.
Antoine de Saint-Exupéry

Obrigado Sophie:

Carpe Diem



março 27, 2005

O Amor num Punhal


A Casa dos Punhais Voadores Posted by Hello

Depois de "O Tigre e o Dragão" (Ang Lee) e "Heroi" (Zhang Yimou) surge mais um filme de artes marciais, desta feita um "wuxia" (filme onde os personagens voam) e desenganem-se quem pense que irá ver um filme de lutas, este é uma história de amor maior do que a Vida.
O filme situa-se no final da dinastia Tang, com dois policias Jin (Takeshi Kaneshiro) e Leo (Andy Lau) tenta descobrir quem comanda uma facção "terrorista" denominada Casa dos Punhais Voadores. Para isso desconfiam de uma rapariga cega (a belíssima Zhang Ziyi que aparece na foto e foi revelada ao Ocidente no filme "O Tigre e o Dragão"), de seu nome Mei, que julgam poder levá-los ao verdadeiro (a) líder dessa facção.
Trata-se de um filme inebriante em termos de cores e coreografias (a sequência da floresta de bambu é divinal) e todo o filme parece poesia em movimento. Começamos numa sequência de dança e jogo (a da foto acima) e termina num momento de amor pungente e doloroso com figuras em perda recortadas na neve.
Os críticos poderão dizer que um amor assim não existe, claro que trata-se de algum exagero, mas é belo de ver. Acreditem que é um filme mais além do que apenas artes marciais, é acima de tudo o Amor que está em jogo. Se puderem vejam este filme e já agora também os outros 2 que refiro, apesar de não serem puro cinema chinês demonstram que os americanos ainda terão de lutar muito para chegar aos calcanhares deles.
Carpe Diem.

Samara volta a atacar!!! :)


Ring 2 Posted by Hello

O velho ditado cinematográfico que diz que uma sequela é sempre mais fraca que o original, volta a estar correcto (salvo as excepções do Padrinho 2 e Senhor dos Aneis 2/3) porque este "Ring 2" é ligeiramente mais fraco que o original. A premissa do filme até que é original, Samara volta a atormentar a vida de Rachel e Aidan, desta vez porque quer tomar posse do corpo deste último.
O filme joga muito bem ao nível do ambiente e do ar assustador de Aidan, interpretado por David Dorfman, que pressente o perigo e o regresso de Samara. Este filme tem a particularidade (tal como o remake americano "The Grudge - A Maldição") de ser realizado pelo mesmo da sua versão japonesa original, Hideo Nakata e isso reflecte-se no espirito mais sobrenatural e na envolvência negra dos decors, ao contrário do primeiro filme que fazia do "show-off" dos efeitos especiais a sua principal característica.
Continua é a fazer-me confusão uma coisa, o porquê das mulheres com uma cabeleira imensa preta na frente dos olhos... será fetiche? Cá para mim eles em vez de se assustarem ainda se excitam com elas, os japoneses são doidos!!!
Em resumo, o filme tem momentos bem conseguidos e assustadores, mas continuo a preferir o primeiro filme, talvez porque este era novidade (só posteriormente vi o filme original japonês).
Carpe Diem

Boys will allways be Boys


Sideways Posted by Hello

Neste Domingo de Páscoa, talvez não seja esta a escolha mais acertada para uma tarde cinematográfica, no entanto, fico feliz por não ter deixado este filme passar, já que é uma brilhante surpresa. Recordo que este mesmo filme ganhou um Óscar para Melhor Argumento Adaptado (quanto a mim com muita razão) para o seu realizador Alexander Payne em conjunto com Jim Taylor.
O filme retrata a viagem de 2 amigos em vésperas de casamento de um deles pelo circuito vínicola da Califórnia, a particularidade surge no facto de ambos atravessarem a meia idade e à sua maneira estarem inconformados com a vida. Um deles (um estupendo actor de seu nome Paul Giamatti), de nome Miles, é um homem frustrado com a vida, divorciado há 2 anos da mulher que sempre amou e um escritor virtualmente falhado, mas muito culto e apreciador de vinhos. O outro, um actor de Tv (Thomas Haden Church) de seu nome Jack que em vias de se casar quer aproveitar essa semana para gozar a vida a 100% (incluindo envolver-se sexualmente com outras mulheres) e que não preza muito pela inteligência.
Durante o filme damos conta do laço bastante forte que une estes dois homens e a forma como enfrentam a Vida, para isso muito contribuí o argumento e as expressões, sendo emblemático o rosto de Paul Giamatti. No seu percurso encontram duas mulheres que lhes farão reavaliar o seu sentido de vida (Virginia Madsen como Maya e Sandra Oh como Stephanie) e fazer (no caso de Miles) com que sintam de novo o amor.
Trata-se de um filme poético, cómico a espaços, e de uma enorme profundidade... não é um filme alegre, no entanto, fala de coisas reais da vida com muita ironia. As desilusões amorosas (o trauma do divorcio de Miles e como isso o afecta mesmo passado 2 anos), como se magoa alguém (a relação Jack/Stephanie) , a solidariedade entre os homens (toda a sequencia do "acidente automóvel") e por fim a possibilidade que a Vida dá de começar de novo (a relação Miles/Maya).
Devo dizer que fui um dos que adorava a actriz Virginia Madsen nos anos 80 quando ela entrava em filmes pseudo eroticos, no entanto, neste filme ela tem o papel da vida dela enquanto uma mulher amargurada pela falta de sorte no amor e por um casamento desfeito.
Existem 2 sequências no filme (de entre várias) que eu destaco: quando Miles bebe o vinho que tinha guardado em sua casa para uma ocasião especial e o usa com fast food, dado o desgosto que obteve e a ultima cena do filme com um bater na porta pelo mesmo personagem na casa de Maya. O fim fica em suspenso, mas eu como sou romântico e acredito sempre no Amor, sei que eles ficaram juntos e serão felizes, porque ambos são personagens magoadas e irão investir numa relação, poderá levar tempo mas creio que conseguirão.
Vão ver que vale muito a pena mas não deve demorar muito a sair de cartaz, infelizmente. Sejam felizes.
Carpe Diem.

março 12, 2005

Pensamento do Dia

Aqui fica um pensamento que uma amiga me enviou e que, quanto a mim, não poderia estar mais certo:

Metade dos nossos erros na vida vem do facto de que sentimos qd deveriamos pensar e pensamos qd deveriamos sentir
Carpe Diem.

Poesia

Eu sei que ultimamente não tenho colocado textos novos no blog, não por falta de tempo mas por falta de disposição... de qualquer modo, hoje retomo a minha escrita e penso que não existe nada melhor que começar de novo com um dos melhores poetas do Mundo, Vinícius de Moraes, que sabia falar de Mulheres e de Amor como nenhum outro. Aqui fica um poema dele que eu adoro e que espero seja do vosso agrado:
Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Carpe Diem

março 01, 2005

And the Oscar goes to...

Um verdadeiro fanático por cinema não poderia deixar escapar esse momento emblemático do cinema que são os Óscares e já aqui neste blog tinha deixado as minhas previsõe que não acertaram de todo. No entanto, ainda bem que não acertei porque o grande vencedor da noite foi essa obra prima do cinema americano que já tive oportunidade de ver e falar aqui, o filme de Clint Eastwood - "Million Dollar Baby".
Apesar disto, tenho a registar várias injustiças nos premiados, nomeadamente no Óscar de Melhor Fotografia ("O Aviador"), que deveria ter ido para Caleb Deschannel pelo seu magnifico trabalho no filme "A Paixão de Cristo" (a unica coisa boa que o filme tem) e os Óscares para actores secundários que, quanto a mim, estariam melhor entregues à dupla do filme "Closer" (apesar de ser fã do Morgan Freeman).
Os vencedores estão a verde e as minhas apostas são colocadas entre parentesis, devo apenas referir que mudei de opinião após ver o "Million Dollar Baby" e que o Óscar de Melhor Argumento Adaptado foi uma aposta de coração:
Melhor Filme:
· THE AVIATOR (aposta)
· FINDING NEVERLAND
· MILLION DOLLAR BABY
· RAY
· SIDEWAYS
Melhor Realizador:
· THE AVIATOR (aposta)
· MILLION DOLLAR BABY
· RAY
· SIDEWAYS
· VERA DRAKE
Melhor Actor Principal:
· Don Cheadle - HOTEL RWANDA
· Johnny Depp - FINDING NEVERLAND
· Leonardo DiCaprio - THE AVIATOR
· Clint Eastwood - MILLION DOLLAR BABY
· Jamie Foxx - RAY (coincide com a minha aposta)
Melhor Actor Secundário:
· Alan Alda - THE AVIATOR
· Thomas Haden Church - SIDEWAYS
· Jamie Foxx - COLLATERAL
· Morgan Freeman - MILLION DOLLAR BABY
· Clive Owen - CLOSER (aposta)
Melhor Actriz Principal:
· Annette Bening - BEING JULIA
· Catalina Sandino Moreno - MARIA FULL OF GRACE (aposta)
· Imelda Staunton - VERA DRAKE
· Hilary Swank - MILLION DOLLAR BABY
· Kate Winslet - ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND
Melhor Actriz Secundária:
· Cate Blanchett - THE AVIATOR
· Laura Linney - KINSEY
· Virginia Madsen - SIDEWAYS
· Sophie Okonedo - HOTEL RWANDA
· Natalie Portman - CLOSER (aposta)
Melhor Argumento Original:
· THE AVIATOR
· ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND (coincide com a minha aposta)
· HOTEL RWANDA
· THE INCREDIBLES
· VERA DRAKE
Melhor Argumento Adaptado:
· BEFORE SUNSET (aposta)
· FINDING NEVERLAND
· MILLION DOLLAR BABY
· THE MOTORCYCLE DIARIES
· SIDEWAYS
Melhor Filme Estrangeiro:
· AS IT IS IN HEAVEN
· THE CHORUS
· DOWNFALL
· THE SEA INSIDE (coincide com a minha aposta)
· YESTERDAY
Melhor Filme Animado:
· THE INCREDIBLES
· SHARK TALE
· SHREK 2 (aposta)
No cômputo geral em 10 categorias, acertei 3... não está mal para um ano atípico e onde a Academia não teve medo de arriscar.
Continuem sempre a ver bons filmes e de vez em quando arrisquem e vejam algo diferente, pode ser que sejam surpreendidos.
Carpe Diem

Milagre de Vida


Mar Adentro Posted by Hello

Pode parecer estranho o título que dei a este texto sobre um filme que retrata a vida de um homem (Ramon SanPedro) pelo seu direito a morrer com assistência, mas quem vir o filme entende qual a minha intenção.
A história baseia-se no caso verídico do tetraplégico Ramon SanPedro que lutou durante 29 anos pelo direito a morrer de forma assistida sem que isso trouxesse consequências criminais para a pessoa que o ajudasse. O filme apresenta uma enorme sensibilidade no tratamento do tema e demonstra pelos diálogos a alegria de viver de Ramon, este apenas pode mover a cabeça mas estamos constantemente a sentir que ele pode mover-se bem mais do que aparenta, através da sua mente.
O filme tem momentos de uma extrema beleza visual e temática, com conversas extremamente bem estruturadas e que deixam um sorriso nos lábios... a vida daquele homem é muito maior que a cama onde se encontra colocado, extravassa o quarto e voa sobre montanhas e vales até alcançar o seu meio: o Mar.
Ramon detém uma imensa paixão pelo mar, apesar de ter sido este a causar a sua dor (num mergulho mal calculado), mas o Mar pode ser visto como uma forma de viajar de ultrapassar constantemente a linha do horizonte e deixar que os sonhos nos tomem.
Desde sempre considero que Javier Bardem é o melhor actor espanhol da actualidade (e porque não de sempre?) e neste filme isso fica plenamente demonstrado, um homem que exala sexualidade por todos os poros e é de uma carnalidade absoluta vê-se reduzido a uma cama, podendo apenas mover a cabeça e o rosto... uma interpretação capaz de ombrear com o "Ray" de Jamie Foxx e quem sabe arrebatar o Óscar, não fosse o tema tão complexo e avesso às mentalidades reinantes da Academia de Hollywood.
Amenabar ("Os Outros") realiza com muita perícia e sensibilidade, pontuando o drama de Ramon com as vidas das pessoas que fazem parte do seu núcleo e que giram em seu redor, o tema deste texto refere-se a isso mesmo... para os amigos de Ramon, este vai ser um milagre e vai injectar Vida onde estes não a têm.
Um elenco fabuloso, sequências de um lirismo insuportavelmente belo, um actor em estado de graça, um tema incómodo que potencia o debate após visionamento do filme (e um verdadeiro cinéfilo procura sempre este tipo de filmes), a ideia do filme de que a Vida não precisa ser um drama... tudo isto faz com que vos recomende este filme vivamente e sem reservas, não tenham medo de chorar, de sentir, de se emocionarem, a Vida também é feita de momentos assim.
Dirijam-se a um cinema, vejam este filme e voem com Ramon SanPedro pelas montanhas e vales da imaginação, terminando no azul do mar e no vermelho do sangue e do coração.
Carpe Diem

Valsa a 2


Saraband Posted by Hello

Eu sei que parece sacrilégio para um cinéfilo como eu, mas nunca antes tinha visto um filme de Ingmar Bergman (tal como não vi Nicholas Ray, Fellinni, Howard Hawks, Jonh Ford) e estava amplamente curioso por assistir a este. Trata-se de um filme exibido, exclusivamente, no cinema Alvaláxia e concretamente na sua sala digital.
O filme teve a sua génese na Tv, há largos anos que Bergman apenas se dedica a este meio audiovisual, e foi rodado em formato digital. Quando se tentou transpôr para 35 mm (formato das bobines de cinema), o realizador não ficou satisfeito com o resultado e impôs que o filme fosse exibido em cinemas que respeitassem a sua versão original. Em Portugal apenas existe uma sala, no complexo Alvaláxia, e devo desde já informar que é uma maravilha para os olhos este sistema.
A história retoma as personagens de um outro filme do cineasta - "Cenas da Vida Conjugal" -trinta anos depois do casal desse filme se separar, a mulher (Marianne-Liv Ullman) sente que o seu ex-marido precisa dela (Johan-Erland Josephson) e decide visitá-lo na casa de campo. Voltam a estabelecer uma enorme cumplicidade (numa cena linda que originou a foto acima) e Marianne conhece o filho de Johan (Henrik) e a sua neta (Karin).
No fundo trata-se de uma familia profundamente disfuncional e com as emoções à flor da pele, o filme permite retomar o prazer do cinema dialogante e de emoções fortes. Bergman filma sobretudo grandes planos dos rostos e sentimos que somos nós quem está a ouvir as personagens. Trata-se de um filme de silêncios, de toques, de olhares, de um diálogo forte mas ao mesmo tempo divertido... sobretudo é um filme que pede tempo ao espectador, que o "obriga" a parar, a acalmar, a respirar (cena paradigmática desta situação é o minuto que esperamos enquanto a personagem de Marianne ganha coragem para falar a Johan quando chega a casa deste).
Deste filme tenho a registar uma cena que é das mais belas do filme, quando Johan bate à porta do quarto de Marianne e inventa a desculpa de que se sente impaciente apenas para se colocar dentro da cama desta. O resultado é um enorme momento de coragem dos actores, da forma de filmar de Bergman e de um humor corrosivo.
Posso dizer que gostei bastante do filme e há muito não via um filme que me obrigasse a acalmar do stress diário (ainda que os temas tratados sejam bem fortes) e me fizesse redescobrir o cinema da palavra e das emoções. Eu sei que a maior parte das pessoas que lêm o meu blog não gostam de cinema europeu e muito menos falado em sueco, no entanto, recomendo-o vivamente.
Carpe Diem