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Valsa a 2


Saraband Posted by Hello

Eu sei que parece sacrilégio para um cinéfilo como eu, mas nunca antes tinha visto um filme de Ingmar Bergman (tal como não vi Nicholas Ray, Fellinni, Howard Hawks, Jonh Ford) e estava amplamente curioso por assistir a este. Trata-se de um filme exibido, exclusivamente, no cinema Alvaláxia e concretamente na sua sala digital.
O filme teve a sua génese na Tv, há largos anos que Bergman apenas se dedica a este meio audiovisual, e foi rodado em formato digital. Quando se tentou transpôr para 35 mm (formato das bobines de cinema), o realizador não ficou satisfeito com o resultado e impôs que o filme fosse exibido em cinemas que respeitassem a sua versão original. Em Portugal apenas existe uma sala, no complexo Alvaláxia, e devo desde já informar que é uma maravilha para os olhos este sistema.
A história retoma as personagens de um outro filme do cineasta - "Cenas da Vida Conjugal" -trinta anos depois do casal desse filme se separar, a mulher (Marianne-Liv Ullman) sente que o seu ex-marido precisa dela (Johan-Erland Josephson) e decide visitá-lo na casa de campo. Voltam a estabelecer uma enorme cumplicidade (numa cena linda que originou a foto acima) e Marianne conhece o filho de Johan (Henrik) e a sua neta (Karin).
No fundo trata-se de uma familia profundamente disfuncional e com as emoções à flor da pele, o filme permite retomar o prazer do cinema dialogante e de emoções fortes. Bergman filma sobretudo grandes planos dos rostos e sentimos que somos nós quem está a ouvir as personagens. Trata-se de um filme de silêncios, de toques, de olhares, de um diálogo forte mas ao mesmo tempo divertido... sobretudo é um filme que pede tempo ao espectador, que o "obriga" a parar, a acalmar, a respirar (cena paradigmática desta situação é o minuto que esperamos enquanto a personagem de Marianne ganha coragem para falar a Johan quando chega a casa deste).
Deste filme tenho a registar uma cena que é das mais belas do filme, quando Johan bate à porta do quarto de Marianne e inventa a desculpa de que se sente impaciente apenas para se colocar dentro da cama desta. O resultado é um enorme momento de coragem dos actores, da forma de filmar de Bergman e de um humor corrosivo.
Posso dizer que gostei bastante do filme e há muito não via um filme que me obrigasse a acalmar do stress diário (ainda que os temas tratados sejam bem fortes) e me fizesse redescobrir o cinema da palavra e das emoções. Eu sei que a maior parte das pessoas que lêm o meu blog não gostam de cinema europeu e muito menos falado em sueco, no entanto, recomendo-o vivamente.
Carpe Diem

Que sacrilégio pois o Ingmard Bergman apesar de tudo não é uma seca "tão profunda" como se pensa. Interessante é o nome de Karin (o elo entre presente e passado) ser também o nome da personagem em Fonte da Virgem sobre o qual se desenrola a história.

Muito Bom
amigo cinéfilo

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