outubro 23, 2006

A Dança dos "Freaks"

O "hype" deste filme independente americano, premiado no Festival de Sundance, tem vindo a gerar grande expectativa, um pouco por todo o Mundo onde tem sido exibido e, para colocar já os pontos nos i´s, eu acho que é completamente justificado.
O filme retrata a história da familia Hoover composta por seres sem rumo e perdedores: o pai Richard (Greg Kinnear) cujo objectivo de vida passa por promover e tornar famoso o seu método de auto-ajuda, que transforma perdedores em vencedores em 10 passos, mas que não encontra paralelo na sua vida; a mãe Sheryl (Toni Collette) que suporta todas as dificuldades e mantêm a familia coesa; a filha Olive (Abigail Breslin) que sonha ganhar um concurso de beleza infantil (o tal Little Miss Sunshine do título original), sendo ajudada pelo avô nos seus "treinos"; o filho Dwayne (Paul Dano) que faz um voto de silêncio, baseado em Nietzsche, até que consiga entrar para a Força Aerea e que reproduz o "angst" adolescente; o tio gay Frank (Steve Carell) que se auto-intitula o conhecedor nº 1 de Proust, nos EUA, tendo uma recente tentativa de suicidio e o avô paterno (Alan Arkin) iconoclasta e heroinómano. Esta familia, irá percorrer as estradas americanas, numa carrinha VW amarela (ver foto) que se avaria pelo caminho, em união para que Olive concorra ao "Little Miss Sunshine", no entanto, esta será uma viagem de sonhos quebrados, ataques de coração, morte/renascimento e união.
O inicio do filme é um condensado do que iremos ver, através de um grande plano com uns olhos azuis de miuda que nos parece olhar e entrar nas nossas almas, mas quando notamos o reflexo nos seus óculos, verificamos que está atenta à TV no momento em que a gravação de um concurso de beleza mostra a reacção da vencedora. Olive repete o que vê acabando por resumir uma história de sonhos e desilusões.
Toda a sequência passada no concurso "Little Miss Sunshine" é mais aberrante do que a familia "freak", aqui encontramos toda uma sub-América que vive das aparências e do sonho, mesmo que concretizado à custa de uma segunda geração em nome dos pais, destruindo assim o futuro e o presente das crianças. O ambiente no concurso torna-se o mais surreal do filme (filmado num concurso real e com concorrentes reais), sendo a dança "familiar"/actuação de Olive um acto de normalidade a um Mundo (das crianças) que deve ser acima de tudo diversão e inocência e não preversão ou pressão para vencer.
O argumento e o cast deste filme são simplesmente soberbos, com uma coesão e facilidade de interpretação como se encontram em poucos filmes...
O melhor do filme acaba por ser Steve Carell, um actor de comédia em estado de graça, criando neste filme um personagem rodeado de dor, como se dentro de uma enorme bolha de plastico, e quanto menos ele diz ou faz, mais engraçado se torna. Desde as suas expressões até à forma de correr, tudo se conjuga para a interpretação de um homem magoado com a vida (com a perda do reconhecimento enquanto nº 1 em Proust nos EUA e a perda do namorado para o rival) mas que, no fundo, será o responsavel pela reconciliação da familia.
Um filme que apetece não parar de ver, custando muito aquele final porque nos apetece seguir a carrinha VW e continuar a conhecer aquela familia. Não percam de forma alguma, porque aqui está um dos melhores filmes do ano, deixem-se emocionar com os Hoover e dancem com eles porque a normalidade/estranheza está apenas na mentalidade de cada um.
Carpe Diem.

outubro 22, 2006

Vicios - FIBDA 2006

Neste texto resolvi falar-vos de uma outra paixão minha, a BD. Todos os anos se realiza, por esta altura, o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA), um evento que nunca perco. Este ano a principal exposição do certame decorre no Forúm Luís de Camões na Brandoa entre os dias 20 Outubro e 5 Novembro por apenas 3 euros de entrada. Existem outras exposições nos seguintes espaços da Amadora: CNBDI, Recreios da Amadora, Casa Roque Gameiro, Estação de Metro da Falagueira e Galeria Municipal Artur Bual.
Nos últimos anos a BD tem sofrido um grande desenvolvimento por via de argumentistas/desenhadores cada vez mais inventivos e histórias fortes como é o caso da exposição dedicada aos 10 livros do "Decálogo". A BD não é apenas super-herois (se bem que neste campo também vão surgindo pequenas pérolas) mas, acima de tudo, uma nova forma de contar histórias e emocionar ou reviver assuntos tabus na sociedade como o mais recente album nacional sobre Salazar (Miguel Rocha/João Paulo Contrim).
No Forúm Luís de Camões, que tive a oportunidade de visitar ontem, podem encontrar esboços do criador do cartaz (ver foto do lado) e vencedor do Festival no ano anterior, Filipe Abranches, uma exposição sobre o "Decálogo" com os livros para consulta e cenários miniaturizados que originaram as pranchetas e uma exposição sobre os maiores nomes da nossa BD contemporânea. Se tiverem sorte poderão ser surpreendidos por musica louca e ritmada, tocada por uma banda muito especial.
Deixem-se levar pelo sonho e vão até lá conhecer um pouco mais do fascinante Mundo da BD e se puderem, no final da visita, passem nos stands e comprem os albuns de um dos meus autores nacionais favoritos, Miguel Rocha, que vos irá surpreender.
Carpe Diem.

Elegia da Coragem

Quando Oliver Stone decidiu pegar no tema do 11 de Setembro imaginei mais um filme choque contra os poderes instituidos na América como "Platoon", "Nascido a 4 de Julho", "JFK" ou "Assassinos Natos"... no entanto, Stone opta por mostrar a coragem, a força e a superação das dificuldades em detrimento de um filme de campanha.
Trata-se da história, real, de 2 policias da Port Authority que ficaram soterrados sob os escombros do World Trade Center, tendo sido dos últimos a serem salvos. John McLoughlin (Nicolas Cage) é o chefe de turno desse dia, ficando responsável pela evacuação das torres do World Trade Center (inicialmente apenas tinham a informação do ataque a uma das torres) juntamente com a sua equipa de voluntários, da qual faz parte Will Jimeno (Michael Pena), um policia novato mas corajoso.
O filme tem grandes momentos de cinema como toda a sequência inicial dos planos sobre Nova York, antes do ataque, e a sombra do avião a sobrevoar baixo antes de atingir a torre (momento em que o ecran fica negro). Será sempre mais intenso imaginar do que ver e é isso que Stone nos provoca, a ideia de calma e de dia comum antes e o pânico/estranheza que causa a sombra de um avião a baixa altitude depois. Quando o atentado acontece, o realizador explora a descoordenação entre as forças de segurança em contraponto ao desespero familiar dos policias soterrados.
Trata-se de um filme com um forte pendor nacionalista, mas que se compreende no âmbito de um argumento focado na sobrevivência dos dois policias. Os momentos debaixo da terra suportam grande parte do filme, através da coragem e força que faz o espírito americano, são estes dois homens que mal se conhecem e a suas respectivas familias que lhes fazem acreditar que sobreviver é possivel.
Nem tudo é perfeito neste filme e existem mesmo 2 momentos que pecam por excesso como sendo a aparição/sonho de um Cristo com uma garrafa de água ao episodio do Marine (um fervoroso cristão que pede permissão ao padre da sua terra para vir a Nova York ajudar nas buscas e realistar-se nos Marines como forma de vingança contra os infieis). São sequências conservadoras e atípicas em Stone que só um momento extraordinário como o 11 de Setembro poderia evidenciar.
Quero destacar a interpretação magnífica de Maggie Gyllenhaal como mulher de Will Jimeno, num desepenho sóbrio, forte e sobretudo intenso de uma mulher grávida e perdida porque não tem noticias do seu marido e não sabe como irá explicar à filha o sucedido. O filme apela ao sentido de familia, apresentando duas situações: um casal afastado devido ao tempo e à habituação (McLoughlin) e outro unido e em inicio de relacionamento (Gimeno). São estes pilares que irão equilibrar e permitir a sobrevivência dos policias.
No fundo trata-se de um filme onde a esperança predomina e em que acreditamos no ser humano e na capacidade que este tem de ultrapassar as dificuldades internas e externas. Apesar de não ser um filme seco e duro como o "Voo 93", trata-se de uma reflexão sobre as capacidades do homem em sobreviver, não se trata de uma obra-prima de Stone mas também nao é a "americanice" que se apregoava por ai.
Carpe Diem.

outubro 02, 2006

Voltem a ser Crianças

Para começar devo referir que sou fã de M. Night Shyamalan, excepção feita a "Sinais", e sendo o filme em análise do tipo "ou se ama ou se odeia", deixo claro que se trata da opinião de quem adorou "O Protegido", "O Sexto Sentido" e sobretudo "A Vila" e que também adorou este, apesar dos defeitos que tem.

A história passa-se num condomínio fechado em Philadelphia (chamado "The Cove") onde um vigilante e "pau para toda a obra", de seu nome Cleveland Heep (Paul Giamatti), vive/esconde-se pacatamente ao longo dos dias, executando pequenas tarefas, nos diferentes apartamentos. O aparecimento de uma Narfa (semelhante a uma sereia), de seu nome Story (Bryce Dallas Howard) vinda do Mundo Azul, modificará a vida no condominio e a relação entre os seus habitantes.
O filme é composto de pura fantasia como se retornassemos à infância e pudessemos acreditar em seres de um Mundo puro que nos pudessem ajudar a tomar o melhor rumo ou a nos unir na procura da razão de ser. Desde o escritor que irá influenciar alguem no futuro ao vigilante que acabará por expiar os seus pecados, todos os que tomam contacto com a narfa sentem que a Vida não passa de pequenos momentos que devem ser vividos intensamente, por mais banais que possam parecer.
Enquanto assistimos ao filme iremos conhecendo partes da história de Story, simultaneamente com os personagens, fazendo-nos parte do todo. Cria-se o clima das "bedtime storys", ficando-se suspenso pelo passo seguinte mesmo que seja aterrorizador ou mágico. As crianças deixam-se emergir nesses mundos por mais terriveis que possam ser, porque querem sonhar, sendo triste que o crescimento nos deixe pouco tempo para a fantasia... nem tudo tem de ser sério, bater certo ou ser certo/errado, não existe apenas o preto/branco ou cinzento... a Vida pode ser de muitas cores e as pequenas coisas escondem tesouros preciosos que, muitas vezes, consideramos banais.
Nos EUA este filme tem sido um insucesso, grande parte devido aos críticos de cinema que reclamam inverosimilhanças no argumento, é a história de uma Narfa!!! Trata-se de uma fábula, de uma forma de mostrar que é possivel as pessoas se unirem em algo, que basta ter fé (qualquer que ela seja) para acreditar que tudo pode acontecer... é um conto de união, expiação, luta e sobretudo fé no ser humano e no outro, algo que anda arredado do Mundo de hoje onde se desconfia de tudo e de todos e onde a Amizade é cada vez mais importante.
Em termos interpretativos devo destacar o estupendo Paul Giamatti, representando o homem comum que procura sobreviver depois da tragédia, inicialmente não acredita na história, mas aos poucos vai convertendo-se porque precisa de acreditar em algo para dar sentido à sua Vida (a sequência dos bolinhos e do leite nos bigodes na casa da chinesa é deliciosa e hilariante). Por outro lado temos a bela Bryce Dallas Howard numa Narfa de um Mundo de sonho, com os seus grandes olhos azuis e a sua pureza irá unir os vizinhos do condominio e fazê-los acreditar que é possivel ser criança de novo ou ter uma segunda chance de expiar os medos e ser feliz dando a Vida.
A realização/argumento de Shyamalan (sem "twist" surpreendente) é de uma riqueza estupenda, nomeadamente naquilo que não se vê e apenas se imagina... seja na sequência em casa do pai e 5 filhas, passando pela nudez de Story apenas vista por Cleveland, o pormenor do miúdo que vê nos objectos banais o mapa para o mundo dos sonhos e um dos últimos planos visto da água da piscina. Porque será que este filme é mais irrealista do que um dos anteriores filmes deste realizador, por exemplo "O Protegido"? Não era este filme uma batalha de super herois num Mundo real?
Existe uma personagem que incita Cleveland a continuar a sua tarefa porque quer voltar a ser criança, quer voltar a ter fé e a acreditar no sonho.... perdemos a coragem de sonhar quando envelhecemos e deixamos de ver o que é simples na Vida. Eu pela minha parte procuro sonhar de olhos abertos e com todas as cores porque só assim seremos capazes de guardar um pouco da inocência e de fé.
Podem acusar o filme de ser anti-critico de cinema (todas as sequências da personagem Harry Farber parecem gratuitas) e nesse aspecto concordo, no entanto, a história pode não ser perfeita mas faz sonhar, faz acreditar que podemos nos unir e salvar algo nem que seja a nossa própria alma ou resgatar a fé no outro.
Carpe Diem.

outubro 01, 2006

Mudanças!!

Meus amigos, após um ano e meio de Blog senti que chegava a altura de mudar de visual e, inspirado pela minha mana, resolvi adaptar um mais ao estilo dos meus textos e principal interesse: o cinema.
A única concessao que tive de fazer foi o uso das pipocas no canto superior esquerdo e quem me conhece sabe o quanto me irrita ir a um cinema de pipocas, como não encontrei um fundo mais bonito ficou assim mesmo :)
Espero que seja do vosso agrado, no entanto, ainda não se encontra totalmente finalizado já que quero alterar alguns detalhes com mais tempo... gostava que me dessem a vossa opinião e que continuassem a visitar este singelo espaço de crítica e amor ao cinema. Obrigado por existirem e por me visitarem.
Carpe Diem.