A Dança dos "Freaks"
O "hype" deste filme independente americano, premiado no Festival de Sundance, tem vindo a gerar grande expectativa, um pouco por todo o Mundo onde tem sido exibido e, para colocar já os pontos nos i´s, eu acho que é completamente justificado.
O filme retrata a história da familia Hoover composta por seres sem rumo e perdedores: o pai Richard (Greg Kinnear) cujo objectivo de vida passa por promover e tornar famoso o seu método de auto-ajuda, que transforma perdedores em vencedores em 10 passos, mas que não encontra paralelo na sua vida; a mãe Sheryl (Toni Collette) que suporta todas as dificuldades e mantêm a familia coesa; a filha Olive (Abigail Breslin) que sonha ganhar um concurso de beleza infantil (o tal Little Miss Sunshine do título original), sendo ajudada pelo avô nos seus "treinos"; o filho Dwayne (Paul Dano) que faz um voto de silêncio, baseado em Nietzsche, até que consiga entrar para a Força Aerea e que reproduz o "angst" adolescente; o tio gay Frank (Steve Carell) que se auto-intitula o conhecedor nº 1 de Proust, nos EUA, tendo uma recente tentativa de suicidio e o avô paterno (Alan Arkin) iconoclasta e heroinómano. Esta familia, irá percorrer as estradas americanas, numa carrinha VW amarela (ver foto) que se avaria pelo caminho, em união para que Olive concorra ao "Little Miss Sunshine", no entanto, esta será uma viagem de sonhos quebrados, ataques de coração, morte/renascimento e união.
O inicio do filme é um condensado do que iremos ver, através de um grande plano com uns olhos azuis de miuda que nos parece olhar e entrar nas nossas almas, mas quando notamos o reflexo nos seus óculos, verificamos que está atenta à TV no momento em que a gravação de um concurso de beleza mostra a reacção da vencedora. Olive repete o que vê acabando por resumir uma história de sonhos e desilusões.
Toda a sequência passada no concurso "Little Miss Sunshine" é mais aberrante do que a familia "freak", aqui encontramos toda uma sub-América que vive das aparências e do sonho, mesmo que concretizado à custa de uma segunda geração em nome dos pais, destruindo assim o futuro e o presente das crianças. O ambiente no concurso torna-se o mais surreal do filme (filmado num concurso real e com concorrentes reais), sendo a dança "familiar"/actuação de Olive um acto de normalidade a um Mundo (das crianças) que deve ser acima de tudo diversão e inocência e não preversão ou pressão para vencer.
O argumento e o cast deste filme são simplesmente soberbos, com uma coesão e facilidade de interpretação como se encontram em poucos filmes...
O melhor do filme acaba por ser Steve Carell, um actor de comédia em estado de graça, criando neste filme um personagem rodeado de dor, como se dentro de uma enorme bolha de plastico, e quanto menos ele diz ou faz, mais engraçado se torna. Desde as suas expressões até à forma de correr, tudo se conjuga para a interpretação de um homem magoado com a vida (com a perda do reconhecimento enquanto nº 1 em Proust nos EUA e a perda do namorado para o rival) mas que, no fundo, será o responsavel pela reconciliação da familia.
Um filme que apetece não parar de ver, custando muito aquele final porque nos apetece seguir a carrinha VW e continuar a conhecer aquela familia. Não percam de forma alguma, porque aqui está um dos melhores filmes do ano, deixem-se emocionar com os Hoover e dancem com eles porque a normalidade/estranheza está apenas na mentalidade de cada um.
Carpe Diem.