agosto 12, 2007

O Poder da Familia

Fui ver este filme, antes de mais, como consequência do "hype" gerado por esse Mundo fora e que o colocou nas listas dos melhores filmes de 2006.
E o resultado do "hype", pelo menos desta vez, é muito acertado porque se trata de um filme estupendo!!! Quem pense que a história se reduz a um filme de monstro terrivel, mortes e exterminio ficará muito decepcionado...
Trata-se, acima de tudo, de um filme sobre o poder da familia e a união entre 5 pessoas, comuns, com os laços de sangue a uni-las. Temos um pai que foi, outrora, negligente, um filho estupidificado e outro com curso superior mas sem emprego, uma filha atleta olimpica (tiro com arco) e uma neta inteligente e carinhosa.
Tudo começa quando um médico americano, sedidado na Coreia do Sul, ordena a um seu subordinado que deite pelo cano todo o formalideo que tem, indo este desembocar no rio Han (primeira alfinetada aos EUA e, segundo o realizador, baseado num caso real)... sendo esta uma substância radioactiva, origina o monstro do filme (excelentes efeitos especiais para um "peixe", no mínimo, fora do comum). Durante a sua primeira aparição, o monstro leva a neta da familia, criando assim a união no grupo familiar para a procurar e resgatar.
Todo o filme fala da união familiar, com momentos de comédia negra, que o tornam diferente do "monster movie" comum, além de que esta familia não tem quaisquer poderes especiais, são pessoas que buscam forças no seu interior para enfrentar a desgraça... não são todas as familias assim, quando um dos seus é atacado?
Além do drama com o monstro, todo o filme é uma ácida critica ao comportamento dos EUA no Mundo e um libelo a favor da ecologia, inclusivamente as sequências mais cómicas são mesmo aquelas onde a parte americana intervém. Podemos depreender do título internacional do filme, "The Host", que o realizador quer considerar a Coreia do Sul como o hospedeiro dos EUA, para que estes lancem o seu vírus? E por falar no realizador, aqui me levanto e bato palmas ao Sr. Bong Joon-Ho pelo magnifico tempo que me fez passar.
Quero ainda referir toda a beleza plástica do filme... os malabarismos do monstro, a sequência final em que a familia o enfrenta, a união entre os familiares, a protecção da neta ao miudo que cai no covil do monstro... tudo isto nos enche o olhar e nos faz querer conhecer melhor a cinematografia coreana.
Não percam um filme de emoções fortes com um final não convencional, mas muito belo, deixo-vos com a foto da familia gloriosa e o meu Carpe Diem:



PS: Vi o trailer de 2 filmes que me deixaram água na boca e dos quais irei concerteza falar aqui, um é a nova animação da Pixar e de seu nome "Ratatui". O outro é um filme que gerou um imenso hype no Festival de Cannes, em 2005, com o nome de "Pele Misteriosa" (Mysterious Skin, no original), realizado por Gregg Araki. A ver vamos...

agosto 05, 2007

Amor Doentio

Depois de um longo período sem colocar textos, espero que consiga, a partir de agora, retomar o gosto a falar do meu vicio favorito, o cinema.
Após ter visto o trailer do filme "Bug" fiquei com imensa curiosidade sobre o mesmo além de que tem uma das melhores actrizes americana (muitas vezes subvalorizada), Ashley Judd. Trata-se de uma história perturbante acerca de um relacionamento entre uma mulher perdida e sem companhia e um homem com uma obsessão por insectos (o "bug" do título).
O filme é realizado por um dos membros dos "Golden 70´s", William Friedkin ("O Exorcista"), e isso reflecte-se no produto final já que se trata de um filme limpo, sem "palha", onde tudo se passa num quarto de Motel e com o mínimo de personagens possivel dando uma maior intensidade ao par principal, Agnes (Ashley Judd) e Peter (Michael Shannon). Mas atenção, não é um filme de terror!!
Tudo começa com Agnes, que vive num quarto de um Motel americano degradado, junto de uma via rápida (os unicos planos do exterior são travellings soturnos sobre o Motel), e trabalha como empregada de mesa num bar lésbico. Pela expressão desta sentimos todo o abismo da perda e a falta de contacto humano. Numa certa noite, a sua colega de trabalho, R.C. (Lynn Collins), apresenta-lhe Peter e, sem que esta saiba, irá assim iniciar-se uma relação de dor, compreensão, obsessão e perda.
O filme é doentio, seco, duro... as personagens não têm rede e nós também não, entramos na espiral de paranoia e loucura sem que nos seja explicado o porquê e isso, meus amigos, é o grande trunfo do filme. As interpretações são sublimes, especialmente Ashley Judd, e o clima opressivo faz-nos submergir no drama.
Encontra-mos aqui uma alegoria ao Amor, não o amor dos romances de cordel, mas aquele que resulta da necessidade de ser amado e da falta de sentir o outro, não sexualmente mas no seu conjunto... a cena mais bela de todo o filme e onde nos conseguimos sentir bem é quando o casal faz amor, de uma forma em que o toque é superior ao prazer... a ideia de sentir o outro, de tocar, de mexer e não tanto a de possuir.
A revolução interior na vida de Agnes, ao longo do filme, advem da perda de um ente querido e, ao mesmo tempo, sentir a falta de quem lhe diga que é bonita, mas isso tem um preço.
Será que o Amor pode ser como um insecto? Será o Amor uma forma de auto-flagelação ou de paranoia? Será que ao antingir o limite podemos recuperar a sanidade ou apenas seguir em frente até à implosão? São questões como estas que o filme coloca, sai-se dele perguntado a nós mesmos como pode ser possivel que algo assim aconteça... só prova que a sanidade depende da visão de cada um ou da sua força interior para contornar um mau momento.
Está aqui um dos melhores filmes deste ano, não o percam mesmo que com isso saiam da sala como se tivessem sido espancados ou tostados...
Carpe Diem.

abril 26, 2007

Animação pouco infantil...


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Pérolas do Indie 2 - "Offside"


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abril 22, 2007

Imaginação Vs. Vida

Nem todos os filmes que passam no Indie Lisboa são "diferentes" ou pouco comerciais, aqui está um exemplo acabado desse facto, o ultimo filme de François Ozon que esteve em competição no Festival de Berlim.
A historia deste filme retrata a vida de Angel (Romola Garai), uma jovem de imaginação fértil e uma garra enorme para tornar os seus desejos realidade. Angel vive nos suburbios de Londres, no periodo que antecede a 1ª Guerra Mundial, num quarto por cima da mercearia de sua mãe mas sonhando com uma mansão chamada "Paradise".
O seu grande sonho é tornar-se uma escritora famosa e um dia viver nessa mansão como sua legitima proprietaria, ao contrário de sua tia que sempre lá trabalhou como criada. A sua preserverança e força de viver irão possibilitar-lhe atingir a fama e tornar-se uma escritora famosa. A partir desse momento tudo se conjuga para que os seus sonhos se tornem realidade, consegue ir viver para "Paradise" e até descobre a paixão na figura de um jovem pintor.
Os seus livros são novelas simples e fantasiosas escritas por uma pessoa sem experiência de vida mas com uma imaginação muito fertil e será também esse o esquema do filme. No inicio começa por parecer uma leve "história da Vida" com a ascenção de uma mulher pela sua força e coragem de viver para se transformar numa réplica de um romance escrito pela personagem Angel.
Como diz em certa altura uma das personagens do filme, Angel vive 2 vidas, a verdadeira e aquela que sonhou... como todos sabemos nem sempre o que sonhamos é o que realmente acontece e neste filme tudo se vai desmoronando e revelando que mesmo que se obtenham todos os sonhos não implica que viremos a ser felizes.
O realizador Fraçois Ozon tem aqui um filme mais operático do que é seu habito, contudo continua a dar preponderancia as mulheres na figura de uma Angel magnificamente interpretada por Romola Garai.
Penso que este filme tera estreia comercial e por isso não o percam se gostam de romances cor de rosa que se tornam demasiado reais. A descobrir.
Carpe Diem.

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Pérolas do Indie - Day Night Day Night


O Indie Lisboa ano após ano permite-me descobrir filmes que, muito dificilmente, teriam estreia nacional, com narrativas menos comerciais ou, inclusivamente, menos imediatas.

Tal como acontece com este filme que faz parte da Competição do Indie este ano, de seu nome "Day Night Day Night" e realizado por Julia Loktev (repete Segunda dia 23 às 16:15 na Sala 1 do S. Jorge).

Durante o filme acompanhamos uma jovem mulher da qual nunca sabemos o nome ou a proveniência (Luisa Williams) e que pretende tornar-se numa bombista suicida em Times Square/NYC. Para isso, alia-se a um grupo extremista do qual também desconhecemos o nome que a prepara para o momento final.

Não se trata de um filme com uma história linear, nem vimos a descobrir de onde vem esta mulher ou porque decidiu ser uma bombista suicida, resta-nos portanto ver o que ela faz para se preparar ainda que, em privado, atraves do dialogo com Deus exprima as suas duvidas no que respeita a sua missão.

A ideia de desconhecimento é que torna todo o filme aliciante pois ficamos, literalmente, agarrados a todo o procedimento de preparação que vai desde o vestuário até ao video de despedida, sempre com a preocupação dos objectos, ângulos de câmara ou mesmo do estilo de cabelo. A própria personagem principal é obsessiva com a limpeza (a si propria ou a sua roupa) e subserviente aos organizadores do atentado como se, reagindo desta forma, se redimisse de algo.

Os momentos finais passam-se em Times Square, onde acompanhamos o deambular da personagem com uma mochila às costas carregada de explosivos e completamente anónima, num reavivar das neuroses americanas através de forma realista e credivel. Ainda assim é possivel surpreender como quando a personagem que não sabemos de onde vem e que diz aos terroristas ter os pais mortos decide ligar para estes num momento de desespero (ainda que não fale e se faça anunciar por "it´s me").

A bombista é interpretada por uma espantosa Luisa Williams (trabalhava como babysitter quando respondeu às audições para o filme) que, através dos seus grandes olhos azuis evidencia quer um olhar forte e ousado como perdido e vazio... é uma mulher frágil que se torna forte porque se escuda na religião, mas que questiona se vale a pena matar-se caso ninguém esteja a ver. A força da interpretação, do olhar, da compulsividade na higiene, do sangue frio perante os enervantes momentos de espera, a confiança na organização que a faz usar vendas e algemas, o desespero quando nem tudo bate certo, faz com que nos sintamos ligados aquela mulher apesar da contradição desta ser uma terrorista.

A realização de Julia Loktiev (artista plastica) é precisa e atenta aos detalhes, sem procurar chocar e tornando humana a terrorista, como que dizendo tratar-se de uma pessoa como nós, o que por vezes temos tendencia a esquecer. Os planos audaciosos sobre o rosto da protagonista (um olhar aqui diz mesmo mais que mil palavras) ou nas mãos/gestos das pessoas que irão atravessar a rua correspondente ao atentado, criam tensão no espectador e é ai que procuramos respostas para não dito.

Um filme sem esperança mas com humanidade dentro, a mostrar que um terrorista também tem duvidas e não precisa de uma razão politica (pode ser meramente pessoal) para agir... tal como no final, a personagem interroga Deus com a frase "porque não me quiseste?", é pena que um filme assim não tenha quem o queira e arrisque uma estreia comercial.

Carpe Diem.

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Na Mente de um Viciado

Os filmes baseados na obra de Philip K. Dick são sempre de dificil adaptação cinematográfica e sem uma fidelidade em 100%, ou perto, a obra que lhe deu origem. Os casos dos filmes "Blade Runner" (do qual não sou fã), "Relatório Minoritário" e "Totall Recall" comprovam-no apesar destes 3 terem sido sucessos de público.
O filme em questão baseia-se na obra cuja tradução em Portugal ficou como "O Homem Multiplo" e que retrata um futuro onde uma droga poderosa de seu nome "Substância D" vai corroendo e destruindo os cerebros de quem a toma. Fred (Keanu Reeves) é um policia infiltrado que se transforma no viciado e vendedor de droga Bob, tendo por namorada Donna (Winona Ryder) e vivendo com 2 amigos: Jim Barris (Robert Downey Junior) e Ernie Luckman (Woody Harrelson).
Trata-se de um filme com uma história complexa que se vai desenrolando como um novelo de lã e uma conclusão que explica todos os factos... não vou aqui revelar mais do que devo, até porque este filme saiu em DVD por cá no dia seguinte a ser exibido no Indie Lisboa deste ano.
A forma como o realizador Richard Linklater adoptou para dirigir este filme consegue aproximá-lo da sua matriz inicial e dar maior fluidez à narrativa. Usando o mesmo sistema da sua curta metragem "Waking Life", ou seja, um sistema de animação sobre a imagem real dos actores e onde por vezes o real se mistura com o imaginário torna este filme o mais aproximado do universo de Phillip K. Dick.
As interpretações são superlativas, com diálogos longos mas divertidos (como é o caso de todas as cenas dos 2 amigos) e uma conclusão que, apesar de demasiado explicita, permite dar um maior sentido à história. A ideia de uma droga que permite separar o cerebro e como que "dividir" a mesma pessoa em varias personalidades foi a forma escolhida pelo autor do livro para homenagear todos os seus amigos que morreram de droga e esse acto de amor sente-se no filme.
Não se trata de um filme totalmente conseguido e, inclusivamente, ficou aquém das minhas expectativas apesar do cast e do realizador, mas trata-se do objecto mais aproximado da obra de Phillip K. Dick e com momentos saborosos e divertidos.
Carpe Diem.

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