A derrota da Itália
Durante a campanha para as legislativas em Itália Nanni Moretti teve a ideia realizar um filme sobre Berlusconi que resultou neste filme forte e belo em certos momentos. Um Caimão é uma especie de crocodilo, um predador que raramente larga a sua presa... nada melhor do que este epiteto para denominar aquele que foi preponderante (pelas piores razões) em Itália nos ultimos anos.
Quem pense que Moretti fez um filme centrado em Berlusconi desengane-se, a principal história é a de Bruno Bonomo (Silvio Orlando), um produtor de filmes série Z italiano que sem conseguir produzir filmes (esta na bancarrota) e em vias de divorcio se sente no abismo. Durante a exibição de uma retrospectiva dos seus filmes, aparece uma jovem Teresa (Jasmine Trinca) com um argumento chamado "O Caimão" e com a urgência de fazer um filme sobre Berlusconi... Bruno agarra-se ao argumento com todas as forças, mas fazer um filme sobre o homem que monopoliza a televisão privada e detem tanto poder não é fácil.
Trata-se de um filme dentro de um filme, com o papel do Caimão a ser interpretado por 3 actores diferentes como que dizendo que Berlusconi tem multiplas facetas desde corrupto a populista e vitima atraves dos actores do suposto filme: Elio de Capitani (o mais fiel ao retratado e o futil), Michele Placido (o narcisista que interpreta um outro narcisista) e o próprio Nanni Moretti (um defensor da esquerda que se transmuta em direita populista). Apesar da critica acida ao homem e ao seu regime temos, acima de tudo, a historia de um homem em perda (que votou Berlusconi) que sente a Vida fugir-lhe e se tenta agarrar ao argumento do filme para se reerguer mesmo que tenha de admitir que errou.
A interpretação de Silvio Orlando é superlativa, revelando todas as nuances de um homem desesperado que não entende o porque da queda no abismo e, ao mesmo tempo, tenta por todos os meios manter-se à tona, quer a nivel profissional como pessoal. Um dos melhores momentos do filme acontece aquando da separação definitiva do casal atraves da troca de olhares e de ultrapassagens entre 2 carros ao som da musica de Damien Rice.
Um filme politico em todas as suas formas e com um final supreendente, não tanto pelo tom mas pelo facto da encarnação do Caimão ficar a cargo de Nanni Moretti, uma forma de ironia ou de mostrar ao publico que a face do mal pode ser qualquer uma? E a sombra que o envolve é sobretudo o desejo de que o "monstro" desapareça ou mostra que ele pode ficar na sombra e regressar a qualquer momento?
Existe uma questão não respondida no filme (e bem), como é possivel Berlusconi ter chegado ao poder? Moretti não responde e isso torna o filme ainda mais forte. Apesar de não ser dos melhores filmes do realizador, trata-se de um bom momento de cinema para quem gosta de filmes politicos ou que façam reflectir.
A queda de homem simbolizando a queda de um país,
Carpe Diem.