Estranheza...
Nada a Esconder
Tive a oportunidade de assistir a este filme no mais recente Festival de Cinema Francês e um pouco "empurrado" pelo facto do cinema de Michael Haneke ser sempre surpreendente e ter sido premiado em Cannes (justamente com o prémio para melhor realizador), no entanto, trata-se de um filme muito estranho e que cria demasiadas questões sem resposta.
O filme ainda não estreou comercialmente em Portugal (apesar de ter sido adquirido pela Atlanta Filmes) e creio que a forma como está estruturado irá criar bastantes anticorpos no espectador de cinema alheio aos filmes europeus. Quem espera um filme provocante e hardcore como "Brincadeiras Perigosas", pode desistir porque este é do foro psicológico e da mente, aqui o medo surge por meio de uma ameça que não se vê e esse facto criará todo o clima de tensão existente.
Tudo começa quando um casal (os brilhantes actores Daniel Auteuil e Juliette Binoche) são aterrorizados por uma serie de videos filmados da entrada da sua casa sem que saibam quem os fez ou onde se situa a camera. Esta insólita situação irá aumentar com o tempo até que as imagens gravadas se vão tornar cada vez mais pessoais para George (Daniel Auteuil) e como não existe uma ameaça identificada, a policia nada pode fazer para ajudar. Com o tempo vimos a descobrir que o casamento não anda bem e George tem traumas de infância escondidos, nomeadamente pelo facto de ter arruinado a hipótese de felicidade de uma criança argelina, adoptada pelos seus pais, apenas porque não queria partilhar a sua vida com mais ninguem.
O filme pode ser visto como uma crítica ao estado actual da nossa sociedade, onde tudo é passivel de ser filmado e a indiferença das relações (sejam de amor, familia ou racismo) vão predominando. A ideia do video a ser filmado, sem razão aparente, e como forma de chantagem tinha sido melhor explorado no filme de Lynch "Estrada Perdida".
Este filme vale pela interpretação dos seus actores e claro, num filme de Haneke, não poderia faltar uma cena choque como é a do suicido argelino testemunhado por George. O seu final, ainda que enigmático é revelador do que uma criança pode fazer para que os seus pais se unam de novo.
Quando estrear creio que vai ser daqueles filmes que extremam posições, quanto a mim não é um Haneke vintage e poderia ter outros desenvolvimentos e um ritmo mais aliciante. Recomedo o filme apenas a indefectiveis do realizador ou a fãs de cinema francês e europeu.
Carpe Diem.